quarta-feira, 23 de junho de 2010

22 Efêmero


Já era meio dia quando resolvi visitar o ar “atelienense”, com a minha mãe. Ela sairia às 13h40. Eu seria bem recebida, pensava enquanto me maquiava.
Nas escadarias do meu prédio, minha mãe lembrou-me pela 3ª vez que não era pra dar palpites furados na aula dela, com os alunos dela. Não deveria ter deixado ela saber o que pensei no momento. Mas disse que isso soa engraçado, e irônico. Ao tempo que eu ensinava desenho no ateliê, passava tardes falando à proprietária do talento absurdo de minha mãe. Até então tinha total domínio dos meus alunos, tinha deles o absoluto respeito e a autoridade máxima para “palpitar” sobre suas obras.
Mas, na minha época de professora de desenho tudo era menos burocrático e não tínhamos muitas regras diante da mesa. Não havia em volta dos alunos tanta opção de material, em compensação o lápis simples riscava alguns metros a mais de traço. O vão entre as mesas juntas do ateliê rústico insistia em manter-se semi-aberto, e causava risos às crianças dos lápis que furavam suas folhas. O sereno som ao canto do espaço ecoava Chopin, e pequenos meninos faziam flutuar suas obras sobre o ar como numa grande peça de ballet. Eles ainda me mostravam com expectativas, com respeito e esperançosos pelo ápice de meu contentamento. Eram três horas embaladas com sorrisos.

Bom, isso foi ha alguns anos atrás.

Minha mãe estacionou o carro diante da entrada do novo ateliê. Tanto mudou que nem ao mesmo endereço se encontra. Entrando, percebi muitos quadros nas paredes, tudo muito organizado e limpo. O primeiro que vi foi o quadro da moça, pintado pela minha mãe. Quando eu dava aula minha mãe trabalhava em outro ramo, em escolas, longe de ateliês, e nas paredes àquela época havia desenhos meus.
Não havia no velho ateliê um hall de entrada como há agora. A proprietária já não é a mesma. As iguarias estacionadas à entrada da minha velha e querida loja foram descartadas, e agora instrumentos de música roubam a cena.
Música; era realmente o que faltava naquela minha época de desenhista. Faltava o som real do violino, do piano, àquela grande apresentação das minhas crianças que eu assistia há anos atrás.
De fato, fui bem recebida. Novamente admirada, isso me causou sorrisos espontâneos. Entre meu braço esquerdo e meu peito eu trazia minha pasta de desenho. Alguns, inclusive, datados a tempo do velho ateliê.
O novo lugar é amplo e dividido em classes. Minha mãe agora dá aula de desenho à primeira classe à esquerda. Hoje ela teve dois pequenos alunos. O Pedro e o Luiz. Pedro; um pequeno e introspectivo aluno. Tímido, mas sagaz. Esperto no desenho, talentoso. Muita noção de perspectiva. Concluí notável a sua neutralidade e paciência para, no máximo, seus sete anos. O Luiz... bom, o Luiz tem perfil de piloto de formula um. Seus dedos são fortes e ansiosos. Sua mente é um tanto quanto negativa, e não tem paciência para tentar antes de admitir que jamais consiga. Adora e idolatra motos, venera carros. Obviamente, quem queria conhecer sobre o universo do desenho não era exatamente ele, mas seus pais.
Em respeito, não queria ensiná-los a desenhar, pois hoje este é o trabalho da minha mãe. A minha mãe, que um dia me incentivou a desenhar, me preparou para dar aula de desenho, enquanto ela se especializava em pintura.
Sentei-me ao lado dos alunos e me coloquei a observar. Ao passar do tempo ali, comecei a me entusiasmar e viver um mar de nostalgia. Inconscientemente incorporei a imagem daqueles meninos à uma classe que era minha, à alunos que eram meus, e subitamente me notei roubando o espaço de minha mãe. Notei-me dando palpites, como ela disse que não poderia. Como se sonhando, diante daquilo tudo, acordei e me levantei da cadeira. Atinei. Era hora de sair dali.
Peguei minha bolsa e a chave do carro, avisei minha mãe que iria ao centro. No caminho até o carro fui pensando comigo mesma; de fato, é tão importante pessoas que incentivem o desenho, é importante existir “Aula” de desenho, pelo menos uma vez por semana, ou duas. Ali, àquela pequena parcela, digamos, de obrigatoriedade, que se PRODUZ, que se vê a finalidade no resultado da arte, a terapia. Ali aquelas crianças estavam desenhando, literalmente, suas histórias, assim como eu fazia ha 16 anos atrás.
Entre a sala da minha mãe e a secretaria passei por uma sala intermediária. Havia outra turma de desenho, outra professora, com aproximadamente 8 alunos; crianças. O primeiro pensamento que me encontrou foi que hoje poucos adultos interessam-se pela arte, ocupam-se de trabalho ou academia, sauna, qualquer outra coisa. Ainda que acreditem ser interessante pra seus filhos, a eles não se têm nada mais do que a imagem de uma simples recreação infantil. Sem culpa, por que talvez os próprios professores atuais as relacionem como tal. Lembro-me de dar aula pra vários jovens e adultos em noites de terças e quartas-feiras.
(...)Meu momento introspectivo e analítico foi interrompido por um grito agudo, e ao me situar àquela mesa de desenho era impossível não notar tamanha desordem. Os risos não eram doces como no meu velho ateliê, risos interessados, concentrados de fato ao trabalho. Hoje, ali, ouvia risos debochados relacionados com assuntos que fugiam descaradamente do motivo pelo qual estavam ali.
Meus olhos curiosos subitamente buscaram a professora diante da sinfonia de barulho ensurdecedor, e simplesmente não consegui definir. Eram todas crianças. Só fui saber o momento que voltei pra buscar minha mãe que, de fato, era um deles.
Sentei no banco do carro, encostei minhas mãos contra o volante. Perguntei a elas se realmente um dia tiveram valor. Perguntei-me se algo delas ainda existe no coração daqueles pequenos que respiraram o ar da mesma atmosfera do velho ateliê, dos meus pequenos, daqueles olhos que brilhavam enquanto sublimavam seus limites e finalizavam uma obra diante a mim.
O espaço era quente, em tons pastéis, amendoados, diferente de hoje, que a luz entra azulada, fria, entre os corredores, envolvendo o ambiente.
Por um lado, pensei em ter me envolvido demais ao meu passado como professora por que estou sentimentalmente abalada nestes dias por problemas particulares. Mas, sozinha, me coloquei à mesma situação de hoje sem estes problemas que me incomodam, e acreditei piamente que a reação seria a mesma.
Fui atrás do que tinha que comprar e tentei esquecer, colocar a culpa em meu stress, novamente me rotular de boa e velha Paula nostálgica. E então a palavra nostalgia me lembrou o Matheus. Lembrou a Lígia e a Flora. Lembrou todos os pequenos e os não tão pequenos assim que passaram por mim.

A vida é imprevisível.
Pregou-me peças. Me fez acreditar que aqueles seres humanos seriam eternos, tão eternos quanto os momentos que passei junto deles.
De volta à porta do ateliê, a nova proprietária estava na recepção e tão calorosamente me recebeu. Algo ainda restou; ainda sou respeitada pelo meu trabalho, ainda que não seja nem um pouco acadêmica, organizada, diplomática. Mas, obviamente, sinto falta daqueles tempos onde era disputada entre ateliês. Mas fui incapaz se seguir padrões, e fui substituída.
A atual professora de desenho logo me viu (aquela que eu não consegui definir entre sua turma) e logo me vestiu de rival, colocou em mim dentes afiados e carranca. RS... Ela me olhou com muito ressentimento, como se tivesse lido meus questionamentos quanto a sua maturidade. Sorri, humildemente, para não dizer que me ofendi. Que infantilidade seria a MINHA se a tratasse mal. Aliás, se duvidasse dela iria contra a minha própria conduta. Comecei a trabalhar com o desenho industrial e artístico com 15 anos, e não gostaria que alguém duvidasse do que era capaz.
Logo vi minha mãe, que me informou que o suposto piloto de formula um, o Luiz, desistiria da aula de desenho. Observei ligarem para sua mãe, informando então a ela a conclusão de que Luiz não tem paciência para desenhar. Ali morreu um destino, um sonho talvez. Se não tivesse sido tomada essa decisão, talvez teríamos mais chances de fazer Luiz se apaixonar pelo traço, pela linha, pela sombra e luz. Mas o escondemos atrás da sombra da insuficiência.
O que é verdade? Existe mesmo o talento? O “nascer para(...)”? Existe a dificuldade? O limite? Existe a falta de paciência quando na presença de paixão? Existe falta de competência, falta de determinação, quando na presença da paixão? TALVEZ, Luiz poderia ter se tornado um apaixonado. Talvez, apenas talvez.
Enfim, hoje não mais. Há algumas horas atrás o destino de um desenhista foi mudado. Isto me faz lembrar o fato de como criança adora aula de desenho na escola, ama desenhar. Quando nos meus sete anos, todo mundo da sala adorava aula de artes. Diferente dos que aos 15 odiavam pegar no lápis. Por que será? Será que todos nascemos grandes artistas e não somos devidamente despertados? Alavancados?
Talvez hoje apenas restem os persistentes.
Imagine um mundo onde todos fossem desenhistas? Tudo seria desenhado, artístico. E se pensar em desvalorização da arte, de fato talvez o artístico se tornasse comum... Mas, me diga; qual o mal nisso? Mas também logicamente teríamos o risco de aniquilar toda a fascinação, o encanto e a mágica da capacidade criadora do artista de expressar ou transmitir tais sensações ou sentimentos. Todos seríamos românticos, e a ausência do romantismo talvez então viesse a ter valor. Realmente, pode ser arriscado.
Luiz agora vai tentar a pintura.
No jardim de infância, pra mim, aula de pintura não era tão agradável. Não sei por que eu pintava sempre mais as mãos do que o próprio papel. Adorava fita-las e contemplar a obra de arte nelas, até a professora me arrastar ao banheiro e lavá-las. Nos dias de reunião de pais, todas as lambuzas nos papéis eram entregues a eles, que faziam todos os tipos de caretas de satisfação em frente aos filhos, induzindo-os como grandes gênios da pintura acadêmica.
Gostava mesmo das aulas de massinha, e fazia famílias de um filho de cada cor. Lembro-me como as professoras ficavam fascinadas pelos alunos todos em seus lugares, concentrados e silenciosos. Isso talvez seja um grande erro da história da educação: professores aplicando a arte para livrarem-se de stress, do incomodo. Como se fosse ontem, eu me lembro de um menino que aprontava muito, e toda a vez que não se sabia mais o que fazer com ele, jogavam-no em uma carteira nos fundos da sala com um lápis e um sulfite.
O próprio giz de cera foi afetado pelas aulas de recreação. Sinceramente, não me lembro de uma vez que uma professora me ensinou como manusear um material. Eram simplesmente distribuídos por uma professora que, em segundos, se escondia atrás de um livro em sua cadeira almofadada.
Esses dias buscando na internet maneiras de expressão com diferentes tipos de materiais, encontrei um trabalho feito de giz de cera. Me emocionei com incalculável beleza. É incrível o que se consegue fazer, nada comparado a aquelas horrendas rabisqueiras penduradas nos corredores da escolinha. Obras abstratas? Claro, pros pais.
Também sinto por não existir uma educação evoluída onde a matéria de Filosofia seja aplicada à de Artes. Digo isso pois estas duas foram as de grande valia a minha vida, as que permanecem em minha alma até hoje.

Enfim, esta é a falha. Escolas nunca foram fundamentadas a evoluírem almas, e sim apenas resumirem-se a informar (parcialmente, é claro) a fim de criar nada mais do que um simples senso crítico à criança, e a capacidade de sobreviver entre a sociedade seletiva.
Talvez Luiz encontre sua alma na pintura, espero que minha mãe saiba despertá-lo. Mas, não devemos esquecer que, obviamente, arte é arte em sua totalidade, indivisível. Para mim, essencialmente, o desenho exigiu de Luiz exatamente o mesmo que exigirá a pintura, pois são de uma única natureza. Espero que minha mãe saiba discernir que é, para ela, mais uma chance idêntica à primeira, de despertar em Luiz uma razão colorida de viver.
Por outro lado, o dedicado Pedro foi prejudicado na aula de hoje. Enquanto eu estava no centro, minha mãe me contou que os dois se agrediram fisicamente, justamente pelo gênio ansioso de Luiz, que não deixava minha mãe atender às necessidades e às duvidas do outro. Então, é coerente e lógico afirmar que existe em Luiz um problema de carência. A falta de atenção e carinho pode aniquilar um gênio, sufocar todas as suas qualidades e capacidades. Eu mesma, conversando 10 minutos com ele, notei que pouco os pais lhe dão atenção, e a idéia de ter se matriculado na aula de artes pode, de fato, não ter sido dele mas de alguém que não tem tempo (ou mesmo paciência) de zelar por ele.
Isto indica que Luiz é um caso a parte. Quanto menos a pessoa tem paciência, mais paciência você precisa ter com ela, e não existe hipótese alguma de sanar a sua demanda se não com aulas particulares. Logo, o acordo na escola foi que ele tivesse aulas em um dia o qual não houvesse outro aluno. Fiquei feliz de minha mãe ter recebido essa nova chance. Contudo, não será fácil, para ambos.
Sim, também acredito que a criança pode optar pelo o que ela quer. Pode deixar as aulas para ser um grande piloto, mas é essencial que ele não saia desta com grandes ressentimentos. Olhei pros olhos dele hoje, no final da aula, e senti a maior desilusão que ele já tivera em sua ligeira vida. Estava decepcionado, se sentindo incapaz.
É essencialmente necessário, se não for possível ensiná-lo a paixão pela arte, mostrá-lo que não foi por incapacidade dele. Que ele não é nenhuma anomalia só por que Pedro consegue desenhar uma moto e ele não. Se não for possível ensiná-lo a traçar, que ensinemos então à ver a beleza do traço. À entender o fundamento das formas, das cores. A beleza num semblante. A ternura de uma paisagem. Isto sim ele levará eternamente, diferente do academicismo, que se muito tempo deixar de treinar um dia acaba se perdendo.

Chamamos isso de sensibilidade. E Luiz viverá uma vida mais significante, expressiva, e intensa, se alguém um dia lhe oferecer essa passagem para a viagem da vida em diferentes trilhos.
Várias vezes já ouvi na vida que essa natureza de “ser sensível” é nata, nasce contigo, e quem não nasce com isso jamais possuirá. Em contrapartida, já tive a sorte de ver as pessoas mais carrancas e amargas do mundo chorarem de emoção diante de uma situação que os tocou.
Todos os seres humanos possuem cérebro. Todo o cérebro possui extremidades, que exercem sua função. Algumas pessoas desenvolvem um lado do cérebro mais do que o outro, mas jamais ao ponto de anular a outra parte. Isso indica que, por mais difícil que seja despertar uma pessoa, sempre teremos uma possibilidade; mesmo que mínima, jamais será nula.
Gosto de pensar que todo o ser humano “insensível”, antes de morrer, encontra a face da sensibilidade em um momento derradeiro. Se não longe, perto da morte.
Seja durante uma peça de teatro, um sorriso de um idoso, um saltar de um grilo, o dançar das flores no vento da primavera, ou segurar nos braços o primeiro filho.


São momentos, imagens, cheiros, que, ao serem entregues aos nossos sentidos, nosso corpo responde imediatamente. Enchem-nos de lágrimas, nos presenteiam de vida, amor, e contento pleno, absoluto.
Senti quando observei pela primeira vez as obras cósmicas de Maria Glória Dittrich. Sinto quando ouço um piano lentamente soar na atmosfera. Quando meu olhar segue o caminhar de uma joaninha ou fede-fede. Ao contemplar todas as cores da aurora da janela do meu quarto.
E enche-se o peito de luz, quando imagino a imensidão de um teatro, enquanto toca a Cavaleria Rusticana, “Intermezzo”. Aquelas tardes diante da imensidão azul do mar esperando a noite vir trazer estrelas. As próprias estrelas quando parecem conversar com a gente enquanto brilham incessantemente.
Na primavera, exatamente às quatro da tarde, a sombra das flamboiãs desenhadas na calçada vermelha dos fundos da casa da minha avó, o som emitido pelo vento ao tocar suas folhas. A lembrança do dia 11 de janeiro de 1995, quando minha mãe me vestiu de branca de neve, e no corredor da minha antiga casa, eu notei que eu lembraria daquilo que estava vendo pro resto da minha vida. E de fato, lembro. E espero pra sempre lembrar. Como me lembro dos discos de vinil, do toca disco de vinil, que gostaria tanto de saber onde foi parar.

Como todo o texto, o livro, o poema, o verso, anseia por um fim. A tudo se necessita um final, para assim um recomeço, o renovar. Inclusive à nossa vida, para darmos espaço a outras vidas, a novas chances de viver de maneira integral, intensa. É importante aceitar um fim, mas jamais conformar-se em apenas esperar por ele.
Hoje foi outro dos dias importantes em minha vida, também espero lembrar-me dele para sempre. Aprendi a dimensão da vida. A importância dos momentos, a valorização. De momentos e pessoas.
Acredito que minha grande dificuldade seja aceitar o poder do tempo, e sua efemeridade. A dificuldade na luta por conquistar seu valor diante do que se transformou o mundo. A dificuldade de encontrar seres humanos que ainda acreditem em soluções como as que acredito.
Foi difícil aceitar-me substituída pela minha própria mãe, e por uma pessoa de 16 anos. Por outro lado, ainda me senti grande, por ter feito parte disso, ainda que em um dia que esteja cada dia mais distante do presente.
Afinal, é para isto que servimos. Para abrir caminhos, arrancar matagais, desenhar trilhas, para novas gerações, diferentes seres humanos. Se desejarmos andar sempre por trilhas já abertas, seremos eternamente seguidores e nunca dignos de gratidão de outrem e de sermos lembrados.

Paula B. Morais

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Não Elimine-se, Hommo.

Toda a matéria que é constituída através de um conceito é, obviamente, pura obra do racional, e jogo de superfície. Talvez, por limitações impostas pela sociedade cristã, que nos banira a aceitarmo-nos humanos, demasiado humanos. Sociedade que julgou o sexo, julgou o desejo, a necessidade natural do poder, do ser, do conquistar. Sociedade esta que nos impôs a eliminação do viver o instintivo e natural humano e nos ensinou a cultuar o fraco, o que à tudo renuncia sem lutar, sem experimentar-se invencível.São de nós puras e verdadeiras as interpretações através da arte, da matéria que fora manipulada ao espectador a fim de que ELE A VIVA em intensidade puramente em sua intocável essência, como um todo, antes de nos tornarmos Apolo e Dionísio, antes de Sócrates ter-nos assassinado a unidade harmoniosa de existir.Talvez, os primeiros etimologistas tenham igualmente sido assassinos, criando a "consciente" racionalidade. Julgando matérias e espiritualismo, bem pagos pela alta sociedade, adoradores socráticos ou cristãos. Conceituando a vida como querendo ser Deus, mascarando nossa verdade, unica e indivisível. Quem dera aceitarmo-nos, finalmente, como Humanos, que, por natureza, vívidos de desejos, e possessivos, ansiosos pelo poder. Temos sido aniquilados pelas regras das atuais religiões, que tanto cultuam o isolamento do próprio plano carnal e existencial, que nos obriga a oprimir nosso próprio instinto, a naturalidade e pureza do nascer dos desejos, das vontades, do que nos é tido como essência. Se não tivessem sido mortos os deuses da grécia antiga, ainda veríamos Deuses aos céus, sendo reverenciados por serem extremamente humanos, por terem forças e poder lutar contra os fracos, ao invés de vicia-los a terem-se como deuses por sua fraqueza. Hoje, sim, reverenciamos fracos, os que deixam de lutar, os que anseiam por piedade, os que morrem por sua incapacidade. Todos os que morrem por incapacidade e abandono do instinto carnal são santos??? O que aconteceu com nossos valores?Vênus fora punida pelo cristianismo por amar demais? Por ser demasiada instintiva e seduzir Marte com seu corpo nú? Quem deturpara o sexo de tal forma? Por que bispos e cardeais, sociedades e tabus dividiram sexo do amor? Hoje os próprios são usuários dos prazeres que eles mesmos julgaram como pecados!!!Seria de todo o "pecado" e maldade acreditar no triunfo de uma luta? Ao invés disso, fazem-nos engolir que reverenciemos fracos. Assim, eles se tornam julgadores dos fortes, e prevalecidos, esmolando eternamente a admiração.Se não fosse pelo vício das religiões, cristãs ou niilistas, não veríamos Deus com a racionalidade de se seguir normas e tradiçoes; nao adotaríamos legislações perante a tal criatura que é obviamente intocável, por racionalidade alguma, por lei nenhuma, por superficialidade nenhuma.Claro! Pois palavras nada dizem, nada são senão códigos à tua imaginação. No entanto, até estes códigos já não te permitem ir muito longe por causa de tantos limites que impõe a organização racional do homem atual sobre sua mente. Mas, não permita ser consumido. Retome sua mente original, sobreviva novamente em tuas entranhas, liberte-se.Então, pois, aceite-se homem. Una tua razão e capacidade de julgar e dilacere, e queime. Atenue então, arduamente, tua maior e majestosa capacidade humana e natural que é interpretar, aceitar-se, e SENTIR o que tua própria natureza lhe impõe, e nunca mais aceite que lei alguma imponha-te a ser.Paula B. Morais