quinta-feira, 12 de março de 2009

Um Artista Vive Menos


Nasce um artista, como se suas veias fossem as raízes de um solo chamado Fundamento. Um artista tem mais facilidade, mais observação. Ve o mundo com os olhos detalhistas, é instigado pela emoção. Um artista se entrega a sua imaginação, não suporta ver e não poder eternizar, não suporta crer e não conseguir materializar. Um artista vive menos. Um artista não consegue amar uma só causa, é dedicado a escravidão e se imitar o real, as vezes insulta o belo, as vezes o venera. Um artista sangra pelos poros, morre e renasce a cada obra; perde um pedaço de si, cada vez que se entrega. Um artista é forte e não se aceita em fraquezas. Vive menos por que a cada obra, arranca um pedaço da sua alma e o estica em seu plano.Com o tempo, aprende a não acreditar nas pessoas e não espera nada. A vida faz esquecer de agradecer, só quer criar... quando já não sabe mais a quem superar, se martiriza, se judia, e se mata, para provar a si mesmo a profundidade de ser perfeito. Em cada traço, em cada luz, em cada sombra. Um artista desgasta sua visão a entender a humanidade do jeito que Deus a fez. Um artista briga com Deus, um artista O agradece. Sabe que Deus o protege, pois Ele também foi um Artista...Deus é o artista que criou o que hoje, nós amadores, nos aproveitamos, usamos, gostamos e desgostamos, criamos princípios e estilos, a partir do primeiro artista da história. E Ele, garanto não se importar de apagarmos a sua assinatura e transcrevermos a nossa, pois a cada dia nos traz novas descobertas da beleza infinita, para nos presentear à mente o esboço em lápis carvão e esfuminho. Deus fez um milhão de obras de arte, mas só os olhos de um verdadeiro artista conseguem captar o que ele quis dizer.Um artista morre antes, mas vive mais, pois Deus é nosso grande Mestre.
Aos artistas.
Paula Borges de Morais.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Tela em Branco


São meus olhos que tantas vezes me dão o caprixo de enxergar a vida colorida. A música me trouxe a paz, o ar me trouxe o pensamento... hoje é dia de ser livre no meu portfólio.
Ontem aprendi que a depressão nada mais é do que a Consciência Infeliz da Modernidade, a Cultura do Excesso, tomada pela absurda exigência social... por que já não completam mais as roupas básicas e a bicicleta chinesa... Quem dera ter a coragem e o coração de um monge.
O céu é a porta da liberdade, e as todas infinitas viagens pela essência são para aqueles que não tem tempo para vícios carnais, mentais, vazios, agonias...
Triste é viver sozinha, implorando a mágica que sentia aos quatorze... triste é querer ser artista apaixonada pela própria vida, e estar acorrentada por um órgão indeterminado a esse mundo pequeno. Depressão não seria, ou Melancolia, o que é poético demais para mim. Apenas sei que, ao fechar os olhos, vejo lençóis coloridos em um enorme ateliê pintado a cor branca, vejo telas e pincéis e papéis rabiscados... eu vejo o Mundo a la arte, mãos de pincel, olhos pintados a tinta a óleo; um tubo da cor do céu...
Hoje vou pintar o Monge a caminhar...
Para sempre prometo ser livre. Hoje instalei um retroprogetor dentro de mim, que viaja pela minha mente, desce ao meu coração, volta ao cérebro para filtrar exageros, para finalmente atravessar a retina, em direção a tela branca e pura... e assim começo.
P. Morais

quarta-feira, 4 de março de 2009

Viagem sem Escala



Hoje não tenho o acompanhamento de música, nem de alguma pele a tocar a minha pele. Eu tenho água quente aos meus pés e esperança de me acalmar, depois de tocar todo o mundo lá fora. Estou exilada, e peguei este caderno de anotação para tranpor meu mundo nessa minha última viagem, a partir da complexidade e infinitude do mundo alheio, atual. Hoje, acordei como Águia, e adormeço como Corvo... tenho que digerir essa podridão. Poderei ainda ser Fênix?
Fui a Dubai e subi ao topo do mais alto prédio do mundo, mas lá de cima quis estar mesmo a presenciar o nascimento de um gênio chamado Darwin, a 200 anos atrás. Mas minhas primeiras lástimas são do século XXI; mesmo com tudo, inclusive sua teoria, perfeitamente exposta em minhas mãos... Quisera eu sentir toda aquela necessidade de descobrir. Talvez teria sido um gênio, teria sofrido necessidade... o que não existe mais. Talvez apenas por querer delirar meus olhos de prazer limiar, iria mais longe contra o tempo e mergulharia em mil anos para ver o Budismo Tibetano nascer a um metro dos meus joelhos... e aqueles olhos das monjas, de mãos calejadas, mas coração nao empedernido pela vida... elas parecem tão fatigadas; felizes são, quase beijam o estado da alma, o Nirvana.
Mas tantas visões nossos olhos almejam, com tantas emoções nosso coração sonha...
Um Lama me ensinou Compaixão, e, com a mesma ternura, a solidez da Paciência e a amplitude da Sabedoria, humilde, para que eu pudesse me perguntar, sem chorar por orgulho, porque uma simples Aranha Saltadora pode viver sobre as mais inóspitas altitudes e Eu, quem inventou o Avião e a Psicanálise, apodreceria na cor púrpura, gangrenando até morrer, deteriorada, reduzida a restos... Posso me perguntar por que a Aranha parece ter vivido muito mais do que eu? "Aranha, troco meu coração humano pelas suas pequenas e articuladas pernas e seu minúsculo mecanismo interior, principalmente pela sua boa visão, que toca o mundo e o faz tão pequeno, mesmo diante a sua acanhada dimensão!"
E, de repente, eu descubro que é pura natureza humana; essência da gana de fazer o que todos almejam. Porque todos aqueles conhecem o Everest, todos eles vão escalar, metade deles morrerão. E o Kailash, é desconhecido... Intocável. Kailash... quão nobre és para mim. Fui águia quando em seu cume pousei, enquanto meus amigos discutiam sobre Hordeum vulgare; A Cevada...
...O que me faz lembrar da palavra Depressão.




P. Morais

(foto: Templo de Taktshang)