quarta-feira, 4 de março de 2009

Viagem sem Escala



Hoje não tenho o acompanhamento de música, nem de alguma pele a tocar a minha pele. Eu tenho água quente aos meus pés e esperança de me acalmar, depois de tocar todo o mundo lá fora. Estou exilada, e peguei este caderno de anotação para tranpor meu mundo nessa minha última viagem, a partir da complexidade e infinitude do mundo alheio, atual. Hoje, acordei como Águia, e adormeço como Corvo... tenho que digerir essa podridão. Poderei ainda ser Fênix?
Fui a Dubai e subi ao topo do mais alto prédio do mundo, mas lá de cima quis estar mesmo a presenciar o nascimento de um gênio chamado Darwin, a 200 anos atrás. Mas minhas primeiras lástimas são do século XXI; mesmo com tudo, inclusive sua teoria, perfeitamente exposta em minhas mãos... Quisera eu sentir toda aquela necessidade de descobrir. Talvez teria sido um gênio, teria sofrido necessidade... o que não existe mais. Talvez apenas por querer delirar meus olhos de prazer limiar, iria mais longe contra o tempo e mergulharia em mil anos para ver o Budismo Tibetano nascer a um metro dos meus joelhos... e aqueles olhos das monjas, de mãos calejadas, mas coração nao empedernido pela vida... elas parecem tão fatigadas; felizes são, quase beijam o estado da alma, o Nirvana.
Mas tantas visões nossos olhos almejam, com tantas emoções nosso coração sonha...
Um Lama me ensinou Compaixão, e, com a mesma ternura, a solidez da Paciência e a amplitude da Sabedoria, humilde, para que eu pudesse me perguntar, sem chorar por orgulho, porque uma simples Aranha Saltadora pode viver sobre as mais inóspitas altitudes e Eu, quem inventou o Avião e a Psicanálise, apodreceria na cor púrpura, gangrenando até morrer, deteriorada, reduzida a restos... Posso me perguntar por que a Aranha parece ter vivido muito mais do que eu? "Aranha, troco meu coração humano pelas suas pequenas e articuladas pernas e seu minúsculo mecanismo interior, principalmente pela sua boa visão, que toca o mundo e o faz tão pequeno, mesmo diante a sua acanhada dimensão!"
E, de repente, eu descubro que é pura natureza humana; essência da gana de fazer o que todos almejam. Porque todos aqueles conhecem o Everest, todos eles vão escalar, metade deles morrerão. E o Kailash, é desconhecido... Intocável. Kailash... quão nobre és para mim. Fui águia quando em seu cume pousei, enquanto meus amigos discutiam sobre Hordeum vulgare; A Cevada...
...O que me faz lembrar da palavra Depressão.




P. Morais

(foto: Templo de Taktshang)