quinta-feira, 29 de outubro de 2009

O tempo das Cantigas


Passando lentamente pelos pontos de memórias do passado, parei no sinaleiro e assim também meu mundo parou. Aqueles dias de infância então voltaram. A simpatia nos olhos, despreocupação com “os outros”. A via rápida às palavras, às atitudes, a ausência de pensamento cognitivo comandante. O arranhão que sangrou um pouco numa tarde de sábado naquele Ficcus, a árvore perto da varanda. E todo aquele desespero a pensar que o mundo acabaria.
A partir dos anos, vamos trocando nossos carros por mais velozes, menos coloridos e mais funcionais. Os que acreditamos nos levar mais longe. Olhando para os lados, as pessoas apressadas com seus carros pretos, ainda no fundo acredito que desejam ser felizes. A pressa senta no banco do passageiro. E pensar que começamos tudo na lenta motoquinha.
Aos poucos, trocamos nossos sorrisos e alegrias pela velocidade e preocupação única com o Destino, sem observar o itinerário.
As brincadeiras na rua, a vontade de estar andando em todos os matagais adentro. O café da vovó com ceroula virada e leite a vontade. Tempos onde as datas ainda eram importantes. Os aniversários eram como, faziam-me sentir como, se houvesse uma grande conquista. Os balões dos cantos da garagem, os enfeites pelas paredes. As pessoas iam chegando, e pela porta da frente oferecendo um grande sorriso no rosto e um pacote colorido entre os braços: “Cadê a Paulinha?”. Todos estavam cheios de vida, e fazer mais um ano antigamente era coisa de gente de sorte.
As paredes branquinhas de casa eram mais bonitas depois de um toque de canetinha preta, mesmo tendo que pagar um preço alto depois. As visitas iam chegando e dando risada. Minha mãe, de cabelos presos e mangas arregaçadas, ajuntava restos de balões estourados e cuidava dos docinhos, beijinhos e nunca se esquecendo daqueles cajuzinhos com açúcar. Recebia os convidados, que com os olhos já buscavam um lugarzinho pra sentar e esperar pelos parabéns. Ela não esqueceu de ligar para a Laurinha, a Fafá, Suzel.

15 anos depois, EU pergunto: “cadê a Paulinha?”.
Para qual lugar foi aquela menina que resumia sonhos em realidade sem responsabilidade? Nesse sinaleiro da vida, eu descobri que lá ela ficou, presa no ano de 1994.
O sinal abriu...

No momento do lançar de um verde, as buzinas arrebentaram para cima do meu carro, e diziam “Saia da frente, precisamos correr!”.
Na vida, o mundo de pessoas necessita correr.
Quantas pessoas atrás de mim se perguntam: “para onde foi a criança alegre e despreocupada em mim?”
Quase que não ouvindo as buzinas ao redor de mim, segui aquele mesmo trecho, mas, dessa vez, de vagar. Seremos hoje expostos as mesmas experiências, mas como adultos encaramos de forma diferente. Assim como resolvemos com mais destreza, menos nos importamos com o que isso nos traz afinal.
A árvore da esquina, aquela que dormia quando a gente passava a mão, não existe mais. O terreno de flores de beira de estrada onde passávamos momentos brincando depois da aula hoje é uma grande loja de peças de carro. Aquele cachorro que acompanhava a gente depois da aula, até em casa, ninguém mais teve notícias. A velha senhora que nos dava docinhos durante o recreio, foi levada pela sua hora. Qual foi o destino daquelas pessoas que, como eu, acreditavam que a infância seria para sempre? Para onde foi você, Ana Zulnara? Camila Anderle e Rodrigues? Onde foram esses que se transformaram em homens; o Pedrinho, o Mateus, Felipe Costa, Eduardo? Andariam vocês com tanta pressa que não poderiam parar num desses sinaleiros da vida e lembrar de tudo o que fomos?
O pátio do colégio Santa Maria já é coberto. Lembrei daquela época onde as crianças se sentiam orgulhosas ao se vestirem de caipiras e era uma honra ser escolhido para ser a noiva do casamento caipira. Peguei-me a imaginar se as crianças ainda não podem comprar quentão, e se hoje ainda se fazem as barracas dos recadinhos de amor. Se o pátio na frente da gruta eles ainda utilizam, e por quanto mais tempo eles vão manter essa celebração. O pequeno brotinho de arvore ali da frente hoje é uma árvore grande e vistosa, enquanto no momento que passo, dois serralheiros estão desenhando nela o seu fim, enquanto outro pendura a placa de “Em breve, Aqui...”.
A pracinha hoje tem chafariz e bambus desenhados pelas luzes verdes pela noite. Novas estátuas foram postas, e bandeiras indicando nosso patriotismo. Os bancos foram reformados e bem estruturados, projetados sobre as sombras das árvores. Mas, me pergunto por um segundo, para onde foram todas aquelas pessoas?
Para onde foram as pessoas tomando um chima às quatro da tarde, mesmo em banquinhos parcialmente quebrados? Para onde foram aquelas crianças penduradas nas balanças, aquele som agradável de risos e imagens de sorrisos pelo ar?
Não encontrei mais o senhor que nos vendia algodão doce, e já não vejo mais aquelas pequenas barraquinhas de duas rodas de cachorro quente com o toldo listrado de vermelho e branco. Hoje, elas são como traillers, cabendo 5 ou 6 homens dentro.
As cores dos prédios mudaram, e novos surgiram com um tamanho maior. As vezes o sol se põe antes, escondendo-se atrás de algum desses grandes construídos recentemente. A construção abandonada do shopping hoje é centro principal de comércio e encontro da cidade. Novos nomes pelas avenidas são vistos, e os antigos estão deixando o mercado. O brechó Vogui fechou suas portas. Mas, a sorveteria Neve ainda está lá, e hoje eu sei exatamente como chegar, quando que antigamente não sabia em qual lugar da cidade eu estava. Mas, o sorvete daquela época parecia mais gostoso. A família estava toda lá. Mesmo que a “Neve” esteja ainda lá, já não podemos ir todos juntos. E, As pessoas continuam a correr.
Por onde andam suas vidas, a que lugar foram presas e deixadas para trás enquanto assumindo algo de menor importância?
Sinto meus dedos enfraquecerem, e busquei um acostamento. Olhei em direção à rua, os carros desciam e subiam rapidamente das elevações da estrada. O plano de fundo parecia que resguardava até uma atmosfera diferente. E aquelas árvores a todos os dias observaram essas mudanças de perto... e eu, onde estive escondida todo esse tempo? Como não pude perceber que eu estava envelhecendo e tudo foi deixado para trás? Os seres humanos se prendem a essa linha do tempo e acreditam, certos de que estão cobertos de razão, que se vive uma faze de cada vez e, depois de vivida, é guardado em um arquivo para nunca mais ser resgatado. As pessoas têm medo de memórias de infância arquivadas em um lado sensível dentro de si, mas não tem medo de se jogar ao futuro sem olhar para trás.
Crianças não têm medo de amar, não tem medo de andar no muro e tem mais equilibro físico. Criança não tem vergonha de pedir, de abraçar e chorar.
...
A Infância
A infância dentro da gente é um eterno galpão colorido e enfeitado com balões e rendas, com carros antigos e conservados de cor azul claro ou amarelo. Galpão com rodas d’água, flores do campo e toca fitas. Um carrossel no canto direito, três motocas no canto esquerdo. Mesas de desenho, baixinhas, ao centro. Canetinhas e lápis de cor de cores inimagináveis, bonecas e carrinhos espalhadas pelo chão. Araras cheias de roupas de fantasias, narizes vermelhos de palhaço em uma caixa, junto de dentaduras falsas de vampiros. Cortinas vermelhas de veludo, tapetes imitando pele de urso. Máscaras coloridas, purpurina e cola colorida brilhante. Bolinhas de sabão espalhadas pelo ar, misturadas com aquelas risadas, aquela ausência da seriedade de um sério compromisso. O toque no pianinho, o arranhar de um violino, o riso em pedido de “desculpa, vou tentar fazer de novo!”. A boneca bárbie vestida de cinderela, o cavalinho de pau, na cor azul. O batom passado na roupa, a penteadeira com maquiagem falsa, pequenas meninas sentadas, assim ao olhar o dentinho novo ao nascer. A infância é um circo sem sentido denotativo. É alegria pintada pelo ar, cores enfeitando o lugar. A luz da lua é sorridente nos olhos de uma criança, e o sol é capaz de abraçar.

Faz parte de nós sermos pequenos um dia. É parte de nossa felicidade descobrir admiração pela nossa infância, e lembrar. Não ter medo de chorar ao lembrar de amigos e situações que passaram. Cuidados maiores dos nossos pais dirigidos a nós, cantigas de ninar de gente que se preocupa até mesmo com o nosso sono.

Mesmo que tenha que fechar meus olhos a imaginar, ainda quero acreditar em sonhos como fazia aquela criança. Quero lembrar dos dias que fui observada como pequena e fraca, e poder sem culpa almejar a liberdade para ser feliz enquanto viva eu estiver, enquanto eu viver o meu "para sempre".

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Lástimas em Clausura



Tenho me acostumado a estar sozinha em dias terríveis. De repente você se vê enclausurado de tal maneira que até mesmo suas maiores felicidades não te dão mais o presente da vontade de se compartilhar.
As vezes é mais fácil jogar a culpa na terceira pessoa, então digo vos claramente que estou contando um problema meu na ponta dos dedos de todos os seres humanos, como se fosse uma regra.
Talvez seja verdade... Eu mesma percebi não somente em meus defeitos tal diagnóstico, mas realmente um ser humano pode se sentir melhor brincando consigo mesmo, fazendo viagens, a vagar em próprios sentimentos mergulhando em pensamentos. A verdade é que quatro paredes podem segurar nosso corpo sem valor, mas jamais nossa mente. Essa nossa mente... Um balão de fogo que nunca se acaba.
Estive conversando com um amigo de Londres a respeito de Deus. Nada relacionado à Religião, visto que a mim nem assuntos de mesma mesa se resumem ser. O acordo foi que se mantermos uma meta a nossa vida, seja qual for, passamos menos tempo pensando que na verdade não somos nada, e que o mundo continuará a girar sem nossa presença. Logo, lendo um pouco de Sócrates, talvez a própria lembrança que as pessoas possam ter depois de nossa morte seja maior e mais significativa do que nossa própria existência material terrena.
Mesmo que você sinta raiva ou um sentimento conturbado sobre si mesmo perante ao Infinito, você acima disso têm o direito se fazer o seu máximo. Perguntei ao Neil quem era ele e por que precisava entender tudo e todos. Ele me disse “Quero ser o meu melhor”. No momento achei egoísmo consigo mesmo. Logo, continuei a admira-lo. Ele é um ser humano que sabe quão pequeno é mas não será por isso que desistirá.
Também alguém que vive em clausura não se sabe onde e esperando por não se sabe o quê. Alguém que vive num consentimento aparente, mas dentro de uma alma, um muito eclodindo em silencio.
Nós seres humanos, considerados diferentes (artistas plásticos, músicos, cineastas, atores, etc.) seremos para sempre o silencio do mundo, a parte do mundo intocada. Por mais que libertemo-nos destas quatro paredes, continuaremos em clausura com a nossa essência e nossa verdade.
Esta verdade que tanto é tentada transmitir através destas conturbadas palavras que tanto tremem de esperança.
Todas as minhas verdades são construídas na escuridão da solidão.
Há também o sentimento de culpa por muitas vezes não usar algo em minhas mãos para escrever parte de mim. Há o sentimento de total desesperança perante a esse mundo insensível. Seremos delicados e educados, mas, nós artistas, queremos na verdade é gritar e chacoalhar o mundo para que acorde de uma vez desse pesadelo da ignorância e sedentarismo mental. Essa parte da vida que é conformismo vivo e gritante, ao mesmo tempo agonizante por ser visto por surdos e ainda numa caixa de vidro com lacres sonoros. A felicidade também está trancada ali dentro. Seremos surdos amanhã, é. Infinito amanhã. A cura da surdez nem no amanhã estará. Fora dessas quatro paredes aqui dentro, encontraríamos? Não acredito, não consigo acreditar.E seja no que você acredita, que seja sem compromissos. Não cobre dinheiro pelo seu dom, por que é resumir-se a notas imundas de papel. Não cobre lixo pela grandeza dos teus pensamentos puros e tenros. Jogue pensamentos ao vento, mesmo que dentro de quatro paredes. Se teus pensamentos ultrapassarem, eles estourarão em meio a falta de oxigênio do mundo morto lá fora. Ninguém valoriza o que teu coração faz nascer. Não liberte sua essência, não se deixe padecer.
Então, a vida resume-se a um ser humano. Você tem tanto a estudar, mas quando olha para si, descobre que o mundo todo nasceu dali de dentro. O mundo que fora construído acima de uma natureza foi levantado movido as ambições e paixões de homens como nós, de matéria findável. Resume-te logo a descobrir o mundo dentro desse teu lugar, quieto, silencioso e simples. Armários necessitam de limpeza, memórias precisam de atenção. Memórias precisam ser lembradas para que possam te tornar em alguém Maior.


Serão lástimas, mas destas lástimas eu mesma vejo a Luz que trás sentido. A solidão torna-se constante quando você aprende a gostar de si mesmo a ponto de preferir amar-te a ti mesmo em silencio a que seguir lógicas desconhecidas.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Imortalidade

Alguns séculos antes de Cristo vivia em Atenas o grande filósofo Sócrates. Sua filosofia não era uma teoria especulativa, mas a própria vida que ele tinha. Aos setenta anos Sócrates foi condenado a morte, embora inocente. Enquanto aguardava no cárcere o dia da execução, seus amigos e discípulos moviam céus e terra para o preservar da sua morte. Sócrates porém não moveu um dedo para esse fim. Com perfeita tranqüilidade e paz de espírito aguardou o dia em que iria beber cicuta. Na véspera da execução, conseguiram seus amigos subornar o carcereiro que abriu a porta da prisão. Críton, o mais ardente dos discípulos de
Sócrates, entrou na cadeia e disse ao mestre:
- Foge depressa, Sócrates”
- Fugir, por que?
- Ora, não sabes que amanhã vão te matar?
- Matar-me? A mim? Ninguém me pode matar!
- Sim,amanha terás de beber cicuta – Insistiu Críton – Vamos mestre, foge depressa para escapares à morte!
- Meu caro amigo Críton – respondeu o condenado – que mau filósofo és tu! Pensar que um pouco de veneno possa dar cabo de mim...

Depois, puxando com os dedos a pele na mão, Sócrates
perguntou:
- Críton, achas que isto aqui é Sócrates?
E, batendo com o punho no osso do crânio, acrescentou:
- Achas que isto aqui é Sócrates? Pois é isto que eles vão matar, este invólucro material, mas não a mim. EU SOU A MINHA ALMA. Ninguém pode matar Sócrates!
E ficou sentado na cadeia aberta, enquanto Críton se retirava, chorando, sem compreender o que ele considerava teimosia ou estranho idealismo do mestre.
No dia seguinte, quando o sentenciado já bebera o veneno mortal e seu corpo ia
perdendo aos poucos a sensibilidade, Críton perguntou-lhe, entre soluços:
- Sócrates, onde quer que te enterremos?
Ao que o filósofo, semiconsciente, murmurou:
- Já te disse, amigo, ninguém pode enterrar Sócrates. Quanto a esse invólucro, enterrai-o onde quiserdes. Não sou eu... Eu sou a minha Alma!

E assim expirou esse homem, que tinha descoberto o segredo da Felicidade que nem a morte lhe pôde roubar.
Conhecia-se a si mesmo, o seu verdadeiro eu divino. Eterno. Imortal”.


A algumas semanas recebi um email se tratando de Sócrates. Eu, apesar de gostar bastante da filosofia, pouco sabia sobre ser Imortal. O email foi realmente simples, como se pode ver. Mas muito me fez pensar. E a vida, é tão descartável assim?
Obviamente, o que deixamos é resultado de tudo o que de bom e definitivo pudemos fazer neste tempo de vida. Mas, estaremos depois em algum lugar para gozar de nossos méritos?
Isso me faz pensar o quanto é bom ser valorizada enquanto viva. Sou mortal de qualquer momento, mesmo já tenho sentido estado morta em vários momentos de vida, sei que um dia partirei completamente e deixarei esse corpo debaixo dos grãos de barro. Será mesmo viável investir uma vida para depois de morto deixar algo para ser lembrado?

Gostaria muito de Sentir o prazer de ser lembrada. Quem dirá que poderer Sentir depois de que os médicos anunciem meu ponto final aos meus entes queridos?
Sócrates, o grande mestre, é admirado por mim, e hoje é lembrado por séculos, o grande fiel à sabedoria. Mas quantos homens vivos podem afirmar com 100% de certeza que ele realmente fora feliz?
Racionalidade dividida pela sensibilidade é a catástrofe existencial. Seria por isso que ao Platão fez acreditar que sabia que de nada sabia? Seria mesmo Sócrates a invenção de seu discípulo?
Também de nada sei, e o mundo todo também(...)
Vivemos, enfim, nos afogando em apologias e querendo a todo tempo só querer de parar de aprender por que hoje já não se sabe mais o que foi verdade, por que agora o homem é "tão poderoso" que se sente no direito de recriar a verdade, como assim o convém.
Acredito piamente que de nada vale esse corpo, mas que a alma dentro dele pode fazer maravilhas enquanto somos considerados vivos.
Ser imortal é e sempre será glorioso, mas, e esses anos de vida?
Imortalidade reflete se a vida for totalidade.

Assim somos todos seres Imortais pois somos Alma, Luz, Divinos, Eternos. Nós só morremos quando somos simplesmente Esquecidos.


terça-feira, 20 de outubro de 2009

Talvez um dia...

Nos últimos dias nós daqui, desse lado do continente, já não estamos tendo tanto a sorte de não sermos atacados por transformações ecológicas. Felizmente, há alguns anos atrás, pouco sentíamos a resposta pelos tantos danos cometidos. Os danos continuam crescendo, o que muda é que hoje temos respostas. Isso é ótimo!
Muitas pessoas se moveram e motivaram a tirar fotos das pedras de gelo do tamanho de ovos de galinha. Agitadas, deixaram os afazeres de lado e paralisaram com o mau tempo. A chuva caía quase que deitada. Eu, que vivi desse pesadelo de dentro de um prédio muito bem construído, senti o aperto no coração do Medo. Não imagino, e admito que não imagino, o que sentiam dentro do peito aqueles que de baixo de uma lona se abrigavam. Era tudo o que pensava no momento.
Um pesadelo natural, e real. Uma resposta.

Parece muito religioso alertar que seja “Deus enviando uma mensagem”. A verdade é que é a própria natureza. Aos que pensam como eu (natureza = Deus) é a resposta dele, que seja.
Sem somar religiosidade ao acontecido, tivemos agonizantes 24 horas na ausência de energia elétrica, e assim pude descobrir como estamos padecemos na ignorância.
O conforto de se poder fazer um pão na máquina elétrica, ou uma chapinha no cabelo. Acender as luzes pra ler um livro, a TV para assistir aquelas novelas ridículas... qualquer coisa do gênero. Mas, acabei descobrindo que o fogo trás luz! Luz, sim, de pensamento.
Goya pintava suas mais lindas obras de arte à Luz de Velas. Eu e minha mãe olhamos para livros, tapetes, quadros e almofadas e as sentimos desenhadas, no espaço, por uma luz suave e amarelada. Nos sentimos heróicas. E as chamas dançavam de alegria ao som de Bowie.
O que era para nos fazer sentir incapacitadas nos mostrou o quanto somos capazes. A luz de uma vela ilumina muito mais do que toda a energia do mundo amparada em luminárias por que a Necessidade nos faz forçar nossa mente a sermos o nosso máximo.
Olhando as duas velas sobre o castiçal antigo azul, dourado e branco, fechei meus olhos e pensei em dias melhores. Talvez, se um milagre acontecesse de essa natureza parar de pedir socorro em fatos como este por voltar a ser nossa floresta saudável, poderíamos ter a chance de ser heróis. Se ainda tivesse tempo...
“Poderíamos ser heróis só por um dia...”
Um dia, mesmo que muito distante a ponto de que não possamos presenciar, os homens serão heróis e quebrarão todas as guitarras elétricas e gritariam com seus violões para que atinjam o mais alto e bom som. Rasgarão as roupas de lantejoulas e prata e se vestiriam como os velhos 60’s, em vermelho, verde de verdade, branco paz e vermelho amor. Ninguém vai querer mais se preocupar se tem um pano entre o corpo e a grama, e quem está a olhar eles abraçarem as árvores. Haverá essa época, época de sonhos, na qual rir alto será qualidade, e calar a boca não será mais necessário pela ausência de uma política desumana.
As pessoas falarão de Bob Marley e Dilan sem preconceitos, usarão Jesus Cristo e Buda como símbolos de inspiração, e a estátua de madeira de Bush e sua bandeira será calor na fogueira que ilumina os luais loucos na beira do mar. Hippies e roqueiros serão parceiros de damas, popstars serão felizes deitados, rolando na areia.
Em vida sei que não vou ver isso, mas prefiro acreditar que vá acontecer depois que eu morrer. Somos isentos de impostos por acreditar. Se eu morrer e ainda for, vou acreditar que as pessoas descobrirão como descobrirem-se.

A porta deve abrir para dentro. Você está fora e pra entender a vida, precisa entrar.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Cartas de um Mundo Distante

Eu costumava não ter que pensar para produzir um pensamento em texto.
Costumava gostar de ficar olhando para o céu no horizonte nos finais de tarde, e ter pensamentos confusos com relação às estrelas. Tinha facilidade para desenhar e cantar, dançar e correr. Ainda sentia algum significado em ir a alguma festa e conseguia conversar por mais de meia hora com uma pessoa normal.
Eu já não sou mais normal.
Não falo mais sobre os assuntos que interessam à massa. Não sei mais me arrumar para chamar a atenção; não consigo mais ser o que os outros esperam. Engraçado é que antes isso era tão fácil. Hoje, torna-se impossível.

Com o tempo aprendemos a ser mais calculistas e racionais. Costumamos então pensar que dar liberdade à um pensamento íntimo é perigoso, e aos poucos, dia após dia, vamos lentamente perdendo a identidade.
Na minha ignorância me faltou intenção a estudar o que os grandes filósofos pensavam disso. Em minha opinião, uma das coisas que aprendemos mais cedo na nossa vida é a engolir o que somos e assumir postura mundana.

Prova disso, eu sou aquela que chora por simplesmente não Conseguir ser o que costumava ser. Forcei até minha alma a ser parte de um mundo comum, e hoje sinto o peso de um erro. Foi fácil entrar em um plano vegetativo, eu pude escolher ser. Hoje, cega á mágicas luzes da vida e lindas imagens pintadas a minha retina, não me é optável outra vida.
Estamos presos a um único chão, infértil. Desejamos tudo o que nos resta a desejar; o que mais querer a não ser o dinheiro?
É como se eu sentisse saudade de uma época que não existi. Época onde o corpo das pessoas já também era casca, mas elas sabiam disso, e não acreditavam piamente de que eram suas razoes de viver, como hoje fazem.
Ainda me fazem sorrir enquanto tenho lapsos de memória quando ouço música clássica ou enka. Até mesmo minhas paixões culturais, pareciam tão enraizadas. Hoje, sou pó.

Pó soprado á este espaço chamado Mundo, ao mesmo tempo em que Seis bilhões de almas estão sendo sopradas também. Estamos todos perdidos, de identidade indefinida. Somos todos iguais e misturados.
Permitimo-nos a reduzirmos a pó, e já não sabemos quem somos em meio a tanta poeira...
A vida se baseou então a isso. Respeitar a opinião se quem nem mesmo conhecemos, não estudarmos mais o nosso mundo nem a si mesmos para que seja formada uma opinião de dentro do vazio interior, e não sob conceitos.

Sê otimista...
Assistindo a televisão encontramos recados, lembretes de como devemos ser, o que é bonito ou inadmissível. Quando encontro um canal que ensine culturalmente, sinto-me banhada de sorte e espírito, pois entro em contato com a minha alma, permitindo que se exalte de alegria por conseguir ainda viver puramente em um mundo mesmo que fechado, dentro destas quatro paredes.
Dentro destas quatro paredes, ninguém sabe como agoniza uma artista, querendo sair a um mundo que no final das contas sabe que não seremos entendidas. Mas ainda a arranjar forças.

Corpo & Alma
Vida e esperança. Em um solo fomos plantados pelos nossos pais, infelizmente com a possibilidade de muitas vezes cometermos a mesma ignorância que eles. Mas há chances de ser liberada uma alma diferente.
A luz que ilumina a mente do grande iluminado, que tudo vê, e sente, intensamente. Este, ao mundo é inadmissível. Ao mundo é esquecido.
Observemos a longa história de iluminação de Sidarta Gautama; assistamos seu legado.

Vejamos Dalai Lama, com suas mãos cobertas de simplicidade e compaixão. Sua alma foi tocada.
Vejamos Rimpochê, com suas mãos cobertas de coragem e sabedoria. Sua alma foi tocada.
A quem pratica Tai Chi Chuan, sua alma será tocada.
Participando de um mundo cósmico e artístico. Envolvendo a música clássica ou zen budista. Despertaremos assim em nós o conhecimento sobre a arte de Viver. À esta tela em branco, com o devido estudo e comportamento, saberemos usar as tintas e os pincéis.

Mesmo que tenha perdido minha identidade, ainda me restam alternativas para recuperar meu tempo. Ainda que com vinte anos já sofra da desumanidade ignorante... Retornar ao meu ímpeto.

Retomar a alma.
Sobre mundoa distantes, a China e o Japão.
A musica clássica.
O teatro
europeu e asiático.
A história das Geishas e Maikos.
Madame Butterfly...
A riqueza da Ukiyo-e.
Biombos, velas, telhados e kimonos.
Espadas curtas e longas
...
Minha falha está onde minha mente um dia quis esquecer.
Meu defeito é minha fraqueza no campo de batalha contra a ignorância
afim de resgatar minha essência.
Paula Morais

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Um Novo Inverno

Estamos vivendo sobre uma época cósmica, longe das pessoas que nos acusam a sermos errados ou certos. O que pouco nos importa, pois obedecer a regras ilusórias da sociedade consumista nos é tão pútrido quanto os que as respeitam.
Lutamos sim, por nós mesmos. Enquanto o mundo lá fora briga pelo papel, nós driblamos ignorâncias e mantemos o que de mais valioso já nos foi permitido sentir; O sentimento de amar e respeitar tanto quanto a nós mesmos, ao outro corpo e seus princípios.
Assim a vida não vai deixar de passar, mas talvez, mais lentamente e especialmente. Talvez, mais apaixonados, seremos capazes de escolher caminhos juntos e, de mãos dadas, trocarmos olhares e incentivos em beijos e abraços.
De repente, o mundo passará a deixar de existir, a todos aqueles que nos julgarão; e a todos os cantos errôneos nós então deixaremos de chorar por eles. Apenas pediremos a Deus, juntos, para que tenham a sorte que nós tivemos, para que tenham o amor dentro do peito como nós temos. Hoje e Sempre.
E que seja sempre o respeito, sempre o carinho e discernimento. Não desejemos que se acabe a atenção à aqueles detalhes, a pequenos gestos e palavras. A profundos olhares, e que lembremos de os dar sempre que se faça a presença de ambos em um mesmo espaço.
Que continuemos os planos, e até mesmo os prantos. Continuemos sim a pensar nos bambus e mata verde ao redor de nossa casa, e as viagens rumo ao branco da neve, ou ao sol brilhante dos paraísos tropicais...
Mudaram-se então meus conceitos de inverno e até mesmo música. Hoje, teremos um novo inverno. Não sentirei mais frio.
E que nos faça a Sorte em dias de união, que realizemos o sonho de ver neve e conhecer o Japão.
Os anos então passarão e serão nos dadas às dádivas da vida e milagres. Que sejamos suficientemente merecedores e presenteados de filhos de olhos nossos, de nossa cor. Ensinaremos então a atenção e a paciência, e, em pequenos momentos, lembrar-nos-emos de contar-lhes a nossa linda história de amor.
E desses filhos, e desse solo, assistiremos juntos a brotar os nossos netos, e repetiremos enquanto nos restar forças para dizer-lhes a importância de um verdadeiro amor. A importância do respeito e da fé, como também o poder do carinho e da atenção. A importância do sempre lembrar, lembrar de beijar, olhar apaixonadamente, dizer ao ligar ou escrever que tanto se ama. A importância de se “Prestar a Atenção”.
Durante este tempo de vida, lembraremos de ontem como etapa vencida, e aceitaremos que um dia morreremos a existência terrena, mas seremos felizes por saber que estaremos juntos além da vida. Durante ela, assistiremos tudo o que juntos construímos, veremos crescer nossa família como também tudo o que de bom fizemos nascer. Teremos visto grandes muralhas, diferentes cores de terra, flocos de neve. Sentido a chuva escorrer pelas nossas costas e perante nossos beijos. E ainda beijaremos daqui muitos anos, e ainda daremos as mãos a cada passeio. Não nos será importante e significante notar novas rugas ou sofrer com as novas incapacidades do outro; será importante, sim, a chance de podermos estar mais um dia ao lado da razão viva de se viver, independente de dificuldades.