quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Cartas de um Mundo Distante

Eu costumava não ter que pensar para produzir um pensamento em texto.
Costumava gostar de ficar olhando para o céu no horizonte nos finais de tarde, e ter pensamentos confusos com relação às estrelas. Tinha facilidade para desenhar e cantar, dançar e correr. Ainda sentia algum significado em ir a alguma festa e conseguia conversar por mais de meia hora com uma pessoa normal.
Eu já não sou mais normal.
Não falo mais sobre os assuntos que interessam à massa. Não sei mais me arrumar para chamar a atenção; não consigo mais ser o que os outros esperam. Engraçado é que antes isso era tão fácil. Hoje, torna-se impossível.

Com o tempo aprendemos a ser mais calculistas e racionais. Costumamos então pensar que dar liberdade à um pensamento íntimo é perigoso, e aos poucos, dia após dia, vamos lentamente perdendo a identidade.
Na minha ignorância me faltou intenção a estudar o que os grandes filósofos pensavam disso. Em minha opinião, uma das coisas que aprendemos mais cedo na nossa vida é a engolir o que somos e assumir postura mundana.

Prova disso, eu sou aquela que chora por simplesmente não Conseguir ser o que costumava ser. Forcei até minha alma a ser parte de um mundo comum, e hoje sinto o peso de um erro. Foi fácil entrar em um plano vegetativo, eu pude escolher ser. Hoje, cega á mágicas luzes da vida e lindas imagens pintadas a minha retina, não me é optável outra vida.
Estamos presos a um único chão, infértil. Desejamos tudo o que nos resta a desejar; o que mais querer a não ser o dinheiro?
É como se eu sentisse saudade de uma época que não existi. Época onde o corpo das pessoas já também era casca, mas elas sabiam disso, e não acreditavam piamente de que eram suas razoes de viver, como hoje fazem.
Ainda me fazem sorrir enquanto tenho lapsos de memória quando ouço música clássica ou enka. Até mesmo minhas paixões culturais, pareciam tão enraizadas. Hoje, sou pó.

Pó soprado á este espaço chamado Mundo, ao mesmo tempo em que Seis bilhões de almas estão sendo sopradas também. Estamos todos perdidos, de identidade indefinida. Somos todos iguais e misturados.
Permitimo-nos a reduzirmos a pó, e já não sabemos quem somos em meio a tanta poeira...
A vida se baseou então a isso. Respeitar a opinião se quem nem mesmo conhecemos, não estudarmos mais o nosso mundo nem a si mesmos para que seja formada uma opinião de dentro do vazio interior, e não sob conceitos.

Sê otimista...
Assistindo a televisão encontramos recados, lembretes de como devemos ser, o que é bonito ou inadmissível. Quando encontro um canal que ensine culturalmente, sinto-me banhada de sorte e espírito, pois entro em contato com a minha alma, permitindo que se exalte de alegria por conseguir ainda viver puramente em um mundo mesmo que fechado, dentro destas quatro paredes.
Dentro destas quatro paredes, ninguém sabe como agoniza uma artista, querendo sair a um mundo que no final das contas sabe que não seremos entendidas. Mas ainda a arranjar forças.

Corpo & Alma
Vida e esperança. Em um solo fomos plantados pelos nossos pais, infelizmente com a possibilidade de muitas vezes cometermos a mesma ignorância que eles. Mas há chances de ser liberada uma alma diferente.
A luz que ilumina a mente do grande iluminado, que tudo vê, e sente, intensamente. Este, ao mundo é inadmissível. Ao mundo é esquecido.
Observemos a longa história de iluminação de Sidarta Gautama; assistamos seu legado.

Vejamos Dalai Lama, com suas mãos cobertas de simplicidade e compaixão. Sua alma foi tocada.
Vejamos Rimpochê, com suas mãos cobertas de coragem e sabedoria. Sua alma foi tocada.
A quem pratica Tai Chi Chuan, sua alma será tocada.
Participando de um mundo cósmico e artístico. Envolvendo a música clássica ou zen budista. Despertaremos assim em nós o conhecimento sobre a arte de Viver. À esta tela em branco, com o devido estudo e comportamento, saberemos usar as tintas e os pincéis.

Mesmo que tenha perdido minha identidade, ainda me restam alternativas para recuperar meu tempo. Ainda que com vinte anos já sofra da desumanidade ignorante... Retornar ao meu ímpeto.

Retomar a alma.
Sobre mundoa distantes, a China e o Japão.
A musica clássica.
O teatro
europeu e asiático.
A história das Geishas e Maikos.
Madame Butterfly...
A riqueza da Ukiyo-e.
Biombos, velas, telhados e kimonos.
Espadas curtas e longas
...
Minha falha está onde minha mente um dia quis esquecer.
Meu defeito é minha fraqueza no campo de batalha contra a ignorância
afim de resgatar minha essência.
Paula Morais