segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Imortalidade

Alguns séculos antes de Cristo vivia em Atenas o grande filósofo Sócrates. Sua filosofia não era uma teoria especulativa, mas a própria vida que ele tinha. Aos setenta anos Sócrates foi condenado a morte, embora inocente. Enquanto aguardava no cárcere o dia da execução, seus amigos e discípulos moviam céus e terra para o preservar da sua morte. Sócrates porém não moveu um dedo para esse fim. Com perfeita tranqüilidade e paz de espírito aguardou o dia em que iria beber cicuta. Na véspera da execução, conseguiram seus amigos subornar o carcereiro que abriu a porta da prisão. Críton, o mais ardente dos discípulos de
Sócrates, entrou na cadeia e disse ao mestre:
- Foge depressa, Sócrates”
- Fugir, por que?
- Ora, não sabes que amanhã vão te matar?
- Matar-me? A mim? Ninguém me pode matar!
- Sim,amanha terás de beber cicuta – Insistiu Críton – Vamos mestre, foge depressa para escapares à morte!
- Meu caro amigo Críton – respondeu o condenado – que mau filósofo és tu! Pensar que um pouco de veneno possa dar cabo de mim...

Depois, puxando com os dedos a pele na mão, Sócrates
perguntou:
- Críton, achas que isto aqui é Sócrates?
E, batendo com o punho no osso do crânio, acrescentou:
- Achas que isto aqui é Sócrates? Pois é isto que eles vão matar, este invólucro material, mas não a mim. EU SOU A MINHA ALMA. Ninguém pode matar Sócrates!
E ficou sentado na cadeia aberta, enquanto Críton se retirava, chorando, sem compreender o que ele considerava teimosia ou estranho idealismo do mestre.
No dia seguinte, quando o sentenciado já bebera o veneno mortal e seu corpo ia
perdendo aos poucos a sensibilidade, Críton perguntou-lhe, entre soluços:
- Sócrates, onde quer que te enterremos?
Ao que o filósofo, semiconsciente, murmurou:
- Já te disse, amigo, ninguém pode enterrar Sócrates. Quanto a esse invólucro, enterrai-o onde quiserdes. Não sou eu... Eu sou a minha Alma!

E assim expirou esse homem, que tinha descoberto o segredo da Felicidade que nem a morte lhe pôde roubar.
Conhecia-se a si mesmo, o seu verdadeiro eu divino. Eterno. Imortal”.


A algumas semanas recebi um email se tratando de Sócrates. Eu, apesar de gostar bastante da filosofia, pouco sabia sobre ser Imortal. O email foi realmente simples, como se pode ver. Mas muito me fez pensar. E a vida, é tão descartável assim?
Obviamente, o que deixamos é resultado de tudo o que de bom e definitivo pudemos fazer neste tempo de vida. Mas, estaremos depois em algum lugar para gozar de nossos méritos?
Isso me faz pensar o quanto é bom ser valorizada enquanto viva. Sou mortal de qualquer momento, mesmo já tenho sentido estado morta em vários momentos de vida, sei que um dia partirei completamente e deixarei esse corpo debaixo dos grãos de barro. Será mesmo viável investir uma vida para depois de morto deixar algo para ser lembrado?

Gostaria muito de Sentir o prazer de ser lembrada. Quem dirá que poderer Sentir depois de que os médicos anunciem meu ponto final aos meus entes queridos?
Sócrates, o grande mestre, é admirado por mim, e hoje é lembrado por séculos, o grande fiel à sabedoria. Mas quantos homens vivos podem afirmar com 100% de certeza que ele realmente fora feliz?
Racionalidade dividida pela sensibilidade é a catástrofe existencial. Seria por isso que ao Platão fez acreditar que sabia que de nada sabia? Seria mesmo Sócrates a invenção de seu discípulo?
Também de nada sei, e o mundo todo também(...)
Vivemos, enfim, nos afogando em apologias e querendo a todo tempo só querer de parar de aprender por que hoje já não se sabe mais o que foi verdade, por que agora o homem é "tão poderoso" que se sente no direito de recriar a verdade, como assim o convém.
Acredito piamente que de nada vale esse corpo, mas que a alma dentro dele pode fazer maravilhas enquanto somos considerados vivos.
Ser imortal é e sempre será glorioso, mas, e esses anos de vida?
Imortalidade reflete se a vida for totalidade.

Assim somos todos seres Imortais pois somos Alma, Luz, Divinos, Eternos. Nós só morremos quando somos simplesmente Esquecidos.