terça-feira, 27 de outubro de 2009

Lástimas em Clausura



Tenho me acostumado a estar sozinha em dias terríveis. De repente você se vê enclausurado de tal maneira que até mesmo suas maiores felicidades não te dão mais o presente da vontade de se compartilhar.
As vezes é mais fácil jogar a culpa na terceira pessoa, então digo vos claramente que estou contando um problema meu na ponta dos dedos de todos os seres humanos, como se fosse uma regra.
Talvez seja verdade... Eu mesma percebi não somente em meus defeitos tal diagnóstico, mas realmente um ser humano pode se sentir melhor brincando consigo mesmo, fazendo viagens, a vagar em próprios sentimentos mergulhando em pensamentos. A verdade é que quatro paredes podem segurar nosso corpo sem valor, mas jamais nossa mente. Essa nossa mente... Um balão de fogo que nunca se acaba.
Estive conversando com um amigo de Londres a respeito de Deus. Nada relacionado à Religião, visto que a mim nem assuntos de mesma mesa se resumem ser. O acordo foi que se mantermos uma meta a nossa vida, seja qual for, passamos menos tempo pensando que na verdade não somos nada, e que o mundo continuará a girar sem nossa presença. Logo, lendo um pouco de Sócrates, talvez a própria lembrança que as pessoas possam ter depois de nossa morte seja maior e mais significativa do que nossa própria existência material terrena.
Mesmo que você sinta raiva ou um sentimento conturbado sobre si mesmo perante ao Infinito, você acima disso têm o direito se fazer o seu máximo. Perguntei ao Neil quem era ele e por que precisava entender tudo e todos. Ele me disse “Quero ser o meu melhor”. No momento achei egoísmo consigo mesmo. Logo, continuei a admira-lo. Ele é um ser humano que sabe quão pequeno é mas não será por isso que desistirá.
Também alguém que vive em clausura não se sabe onde e esperando por não se sabe o quê. Alguém que vive num consentimento aparente, mas dentro de uma alma, um muito eclodindo em silencio.
Nós seres humanos, considerados diferentes (artistas plásticos, músicos, cineastas, atores, etc.) seremos para sempre o silencio do mundo, a parte do mundo intocada. Por mais que libertemo-nos destas quatro paredes, continuaremos em clausura com a nossa essência e nossa verdade.
Esta verdade que tanto é tentada transmitir através destas conturbadas palavras que tanto tremem de esperança.
Todas as minhas verdades são construídas na escuridão da solidão.
Há também o sentimento de culpa por muitas vezes não usar algo em minhas mãos para escrever parte de mim. Há o sentimento de total desesperança perante a esse mundo insensível. Seremos delicados e educados, mas, nós artistas, queremos na verdade é gritar e chacoalhar o mundo para que acorde de uma vez desse pesadelo da ignorância e sedentarismo mental. Essa parte da vida que é conformismo vivo e gritante, ao mesmo tempo agonizante por ser visto por surdos e ainda numa caixa de vidro com lacres sonoros. A felicidade também está trancada ali dentro. Seremos surdos amanhã, é. Infinito amanhã. A cura da surdez nem no amanhã estará. Fora dessas quatro paredes aqui dentro, encontraríamos? Não acredito, não consigo acreditar.E seja no que você acredita, que seja sem compromissos. Não cobre dinheiro pelo seu dom, por que é resumir-se a notas imundas de papel. Não cobre lixo pela grandeza dos teus pensamentos puros e tenros. Jogue pensamentos ao vento, mesmo que dentro de quatro paredes. Se teus pensamentos ultrapassarem, eles estourarão em meio a falta de oxigênio do mundo morto lá fora. Ninguém valoriza o que teu coração faz nascer. Não liberte sua essência, não se deixe padecer.
Então, a vida resume-se a um ser humano. Você tem tanto a estudar, mas quando olha para si, descobre que o mundo todo nasceu dali de dentro. O mundo que fora construído acima de uma natureza foi levantado movido as ambições e paixões de homens como nós, de matéria findável. Resume-te logo a descobrir o mundo dentro desse teu lugar, quieto, silencioso e simples. Armários necessitam de limpeza, memórias precisam de atenção. Memórias precisam ser lembradas para que possam te tornar em alguém Maior.


Serão lástimas, mas destas lástimas eu mesma vejo a Luz que trás sentido. A solidão torna-se constante quando você aprende a gostar de si mesmo a ponto de preferir amar-te a ti mesmo em silencio a que seguir lógicas desconhecidas.