terça-feira, 20 de outubro de 2009

Talvez um dia...

Nos últimos dias nós daqui, desse lado do continente, já não estamos tendo tanto a sorte de não sermos atacados por transformações ecológicas. Felizmente, há alguns anos atrás, pouco sentíamos a resposta pelos tantos danos cometidos. Os danos continuam crescendo, o que muda é que hoje temos respostas. Isso é ótimo!
Muitas pessoas se moveram e motivaram a tirar fotos das pedras de gelo do tamanho de ovos de galinha. Agitadas, deixaram os afazeres de lado e paralisaram com o mau tempo. A chuva caía quase que deitada. Eu, que vivi desse pesadelo de dentro de um prédio muito bem construído, senti o aperto no coração do Medo. Não imagino, e admito que não imagino, o que sentiam dentro do peito aqueles que de baixo de uma lona se abrigavam. Era tudo o que pensava no momento.
Um pesadelo natural, e real. Uma resposta.

Parece muito religioso alertar que seja “Deus enviando uma mensagem”. A verdade é que é a própria natureza. Aos que pensam como eu (natureza = Deus) é a resposta dele, que seja.
Sem somar religiosidade ao acontecido, tivemos agonizantes 24 horas na ausência de energia elétrica, e assim pude descobrir como estamos padecemos na ignorância.
O conforto de se poder fazer um pão na máquina elétrica, ou uma chapinha no cabelo. Acender as luzes pra ler um livro, a TV para assistir aquelas novelas ridículas... qualquer coisa do gênero. Mas, acabei descobrindo que o fogo trás luz! Luz, sim, de pensamento.
Goya pintava suas mais lindas obras de arte à Luz de Velas. Eu e minha mãe olhamos para livros, tapetes, quadros e almofadas e as sentimos desenhadas, no espaço, por uma luz suave e amarelada. Nos sentimos heróicas. E as chamas dançavam de alegria ao som de Bowie.
O que era para nos fazer sentir incapacitadas nos mostrou o quanto somos capazes. A luz de uma vela ilumina muito mais do que toda a energia do mundo amparada em luminárias por que a Necessidade nos faz forçar nossa mente a sermos o nosso máximo.
Olhando as duas velas sobre o castiçal antigo azul, dourado e branco, fechei meus olhos e pensei em dias melhores. Talvez, se um milagre acontecesse de essa natureza parar de pedir socorro em fatos como este por voltar a ser nossa floresta saudável, poderíamos ter a chance de ser heróis. Se ainda tivesse tempo...
“Poderíamos ser heróis só por um dia...”
Um dia, mesmo que muito distante a ponto de que não possamos presenciar, os homens serão heróis e quebrarão todas as guitarras elétricas e gritariam com seus violões para que atinjam o mais alto e bom som. Rasgarão as roupas de lantejoulas e prata e se vestiriam como os velhos 60’s, em vermelho, verde de verdade, branco paz e vermelho amor. Ninguém vai querer mais se preocupar se tem um pano entre o corpo e a grama, e quem está a olhar eles abraçarem as árvores. Haverá essa época, época de sonhos, na qual rir alto será qualidade, e calar a boca não será mais necessário pela ausência de uma política desumana.
As pessoas falarão de Bob Marley e Dilan sem preconceitos, usarão Jesus Cristo e Buda como símbolos de inspiração, e a estátua de madeira de Bush e sua bandeira será calor na fogueira que ilumina os luais loucos na beira do mar. Hippies e roqueiros serão parceiros de damas, popstars serão felizes deitados, rolando na areia.
Em vida sei que não vou ver isso, mas prefiro acreditar que vá acontecer depois que eu morrer. Somos isentos de impostos por acreditar. Se eu morrer e ainda for, vou acreditar que as pessoas descobrirão como descobrirem-se.

A porta deve abrir para dentro. Você está fora e pra entender a vida, precisa entrar.