sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

EstÉTICA

"A beleza é fundamental...
Enquanto na ausência de Raciocínio do Espectador
ou do Objeto de Análise"
Paula Morais

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

"Quem paga o preço da Ignorância do ser humano não é o próprio; é a Genialidade não reconhecida dos Sábios"
de Paula Morais


A expressão de Marat

"A Morte de Marat" é uma Obra Prima de Jacques Louis David

Tal obra de Arte fora dada a existência por Jacques Louis David, datada de 1793. Quadro de generosa beleza e encantamento pintado em Óleo sobre tela, em seus 128 centímetros de altura e 165 de largura.
Uma composição do período da arte Neoclássica, cujas características marcantes são o caráter ilustrativo e literário, marcados pelo formalismo e pela linearidade. Poses escultóricas, com anatomia correta e exatidão nos contornos, e temas "dignos" e de terna clareza.

Analisando aspectos estéticos
e sensibilizantes da Composição
Com seu fundo lateral esquerdo, na totalidade negra, a imagem nos é estimulada à diante da composição, revelando-nos a cena. As cores pastéis, com evidência ao Terra Verde, Sépia, Amarelo Nápoles e Terra Siena Natural. O homem, cuja a iluminação vincula-se principalmente a tal, é Marat. A dramática posição a qual se encontra provoca em nós o afloramento de certo augúrio, mesmo que inocentes sobre uma história já, há muito tempo, acontecida. Superficialmente, uma produção artística quase que tipográfica de demasiado realismo, causa no expectador impressões e sensações majestosas mesmo que diante de nós esteja uma pessoa em leito de morte.
A calma feição de Marat e sua expressão, nos traz levemente certa Angústia. Talvez de face manipulada pela dor, sofrimento e consternação. O papel à sua mão nos dá a impressão de que se trata de uma carta de despedida, talvez um testamento, e sua caneta pena, refletida de luz proveniente à esquerda, enfatiza a existência da seqüente sena que até a este momento vinha acontecendo, ao então ser interrompida por sua extremidade existencial. Objeto quase que na penumbra, uma das peças principais da composição, a Faca, no canto esquerdo inferior da obra. Motivo este, principal, o qual trás luz ao raciocínio do expectador: O então Assassinato de Marat.

Agregando a Realidade e o Fato Histórico à
Obra Prima “A Morte de Marat”
Compreender uma constituição de expressões e cores impressas em um plano, de fato é imprescindível o conhecimento do contexto histórico para tal.
Assim, avaliemos Jean Paul Marat.
Médico, periodista e revolucionário da Suíça, conhecido historicamente como uma das figuras mais radicais dos setores populares do jacobinismo durante a revolução francesa. Extremista por natureza, exigiu uma ditadura revolucionária e conclamou os patriotas parisienses a instar um motim contra os girondinos. Por isso, em 13 de julho de 1793, foi assassinado por uma jovem girondina, Charlotte Corday, enquanto tomava um banho medicinal em sua casa, em Paris. O que indica clara e satisfatoriamente a cena que nos é exposta pelo Artista. Indivíduos de camadas populares na época da Revolução Francesa, devotaram um verdadeiro culto a sua memória e, na época, foi considerado como mártir da revolução e sepultado no Panteão.

"A imagem de Marat transcende a sua própria pintura. Aflora em nós a curiosidade e esboça, mesmo sem o saber o contexto, o indicar do significado.

É Brilhante, acadêmica e expressiva."

Por Paula Borges de Morais

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

William Hearst por Orson Welles

William Randolph Hearst
O Magnata

“Nunca deixou de ser essência, mas Seu dinheiro não o fez ser menos cego do que qualquer pessoa, em qualquer nível social, diante do capital. Tanto que, ao final da vida, retornou ao zero dela.”

O filme “Cidadão Kane”, diante a quem interpreta, foi tal ultraje que teve passado por diversas vezes ao perigo de ser destruído. Primeiramente por um Órgão, um ser humano que foi o semelhante a todo um órgão público; Willian Randolph Hearst.
Uma quinquilharia de bens, selecionados por gosto de si, ou gosto pelo simples “Poder”, seriam a coleção de prazeres de Hearst. Obras de Arte, principalmente esculturas. O mármore era madeira, os pilares eram apenas pequenos enfeites, ouro e outras preciosidades eram o conceito de Comum.
Filho pequeno, rico por direito, não passava vontades em frente ao sorvete, ao que se dizia o bom para uma criança. Tudo lhe era digno de desejar, e sua mãe vivia para instigá-lo. Filho de dono de uma Mina, era o menino que poderia a tudo escolher se quisesse. Assim cresceu, mas algo ficou para trás, na simplicidade da infância.
O documentário e o filme, simplifico, mostram um homem perdido entre aparentes motivos que o preencham. Um mundo vazio, ao mesmo tempo em que tão cheio. Willian Hearst foi um homem que seguiu a vida da maneira em que ela se apresentou, e foi facilmente manipulado pelos desejos superficiais que ela causou. Tinha seu jornal como ramo principal. Tentou carreira política.
Nesta tentativa ele começou a notar quem ele era. Uma sombra. Hearst nunca deixaria de ser quem apenas a entreter os leitores, um homem oculto detrás de folhas livres de jornal. Ganharia sua fortuna sim, mas em clausura. Sua imagem não era amada, seu Dinheiro que era respeitado.
Não possuía grandiosos amigos, pois vivia afoito, amizade era a de seus bens. Admiração era por sua grande mansão, o império ao topo das montanhas de Hollywood. Afloravam assim mais e mais bens materiais, quando tudo o que ele sempre teve em mente foi um carrinho simplório, de madeira. Rosebud.
Diplomático, talvez. Talvez sábio demais ou inocente. William Hearst dedicou uma vida mais às vontades da sua razão e praticidade do que a profundidade de sua alma, o seu coração, que veio a tona momentos antes de enxergar a foice da morte.
Cidadão Kane
O Filme e Documentário
A fotografia do filme seria perfeita se não a ausência de cores a fim de causar mais ainda o sensacionalismo. Um filme; admito o que Welles e sua equipe afirmam; quarenta anos avançados a sua época, transcende o Mágico de Oz em carga lógica e racional, verdadeiramente considerável.
Às primeiras imagens do longa-metragem, o expectador é influenciado por uma atmosfera de suspense. A imagem de um mausoléu de luxo.
Próximas Imagens. O Filme mostra-se como um documentário e dá a idéia de que transcorrerá da mesma forma até que se acabe. Podemos observar neste início a apresentação de quase todos os atores e coadjuvantes, além de uma prévia da turbulência chamada “Cidadão Kane”.
Mostra-se a todos os momentos a luxúria, o Comprar e o mais querer. Ao longo do filme, depósito de bens, e o depósito da ambição: a cabeça, mente de Kane, imagem figurativa do verdadeiro William Hearst.
O documentário revela as entranhas do mundo possessivo de um homem perdido num labirinto que se faz a pequena estrada entre montanhas de bens.
Esposas são colecionadas. Talvez, paixões. Hearst foi apaixonado. Vi, sim, em sua alegria depois de sua última companheira Marion Davies. Mesmo que a impulsionado a fazer o que nem sempre queria (cantar) houve então o momento de compreensão. Nasce ao mesmo tempo a verdadeira sensibilidade de um amante, um apaixonado. Cuidou-se dela, e ela dele. Mesmo com a diferença de idade, fizeram um belo papel. E Acredito, sim, que Marion desempenhou grande papel para que Hearst voltasse aos seus verdadeiros princípios, aos naturais e tenros momentos de felicidade.
Hearst só não foi um inseto por que transformou todos os seus medos em castelos de luxo, os quais escondem destas críticas qualquer enfermidade mental. Foi um fantasma, engolindo suas lamúrias e beijando sua eterna solidão.


Orson Welles
A Semelhante perfeição àquela Imagem do Poder

O menino gênio, prodígio, desde sempre afirmado, aceito como pequeno sucesso. Welles foi grandioso e genioso, ao contrário de Hearst ao mesmo tempo que vestido de uma vida semelhante. Aos 76 anos do velho magnata, Welles vivia o auge do seu sucesso, aos 24.
Welles não sentia medo da aceitação negativa. Fazia o que podia, ao tempo que tinha e, muitas vezes, nem o tinha. Também Produtor de peças de teatro, desafiou a burguesa classe americana e o pútrido racismo, regendo uma apresentação da peça Machbeth, de Shakespeare. Com sucesso, apoiou idéias e ideais baseadas em constante afirmação genialidade. A vida tomou rumos diferentes depois de ser escalado a representar Hearst, em “Cidadão Kane”. Desafiar o poder, com a ARTE enfrentar o DINHEIRO, a supremacia, é a maior inteligência enrustida em suma ignorância. Um aparente valente cobrindo um tenro covarde. Depois disso, Welles lamenta por ter de ter assistido a arte esvanecer diante da política, dos órgãos predominantes, e ter sido escravo disso. Enquanto produtor de sucesso, usado pelo poder maior para entreter o menor. Logo destruído por Hearst, trabalhou mediocremente e eternamente oprimido pelo seu próprio arrependimento.

Não se usa a arte, algo tão grandioso, para enfrentar o lamentável e limitado capitalismo. A isto, usa-se a própria preeminência: a Sabedoria, O Silêncio.

De: Paula Borges de Morais

Rafael Sanzio pinta "Ninfa Galatéia"

É primordial agregarmos significado a uma obra de arte, e é um dever sabermos de todo o contexto que ela envolve. Muitas vezes mitológico, histórico, ou religioso, a luz que trás o discernimento se faz a partir do nosso conhecimento. Essencial, e imprescindível, é O Saber.
Primeiramente me ocupei a decifrar diante do Aurélio o significado gramatical a que se usa a fim de nomear tal obra. Define-se:

Ninfa: - Mulher jovem e bela.
- Divindade feminina da mitologia greco-latina, que presidia aos rios, fontes, bosques, mares e/ou montanhas.

Galatéia: De acordo com a mitologia, uma ninfa imortal do mar, divindade, filha de Nereu e Dósis. Essa nereida, cujo nome significa a donzela branca, vivia nas costas da Sicília.

Isto feito, poderemos ver com clareza a sua imagem e o cenário que a envolve de expressão e fugacidade.
Temos na obra um conjunto de cores pastéis, um fundo calmo e harmonioso, ainda que esteja presente um arrebatamento da imagem ao primeiro plano.
A pintura em si é um afresco (Técnica de pintura em parede ou teto, feita com tinta diluída em água sobre revestimento ainda fresco e úmido) renascentista do século XVI. Tal obra de arte fora inspirada num poema de Florentino de Ângelo Poliziano.
Analisando a obra, percebi linhas que indicam o centro, o centro do quadro, o centro da Atenção. A ninfa. Uma convergência de traços. Ao fundo não lhe era instigada a atenção, visto que o cenário primitivo nos atrai e envolve completamente.
Trata-se de personagens da mitologia. A ninfa, como no plano real da obra, é levada numa carruagem pelos golfinhos, de cabelos ao vento, envolta de panos vermelhos. Na parte inferior, um anjo parece indicar a direção ao Polifermo (um ciclope que amava Nereida) que segura com firmeza em quem ela transformou seu amado Ácis, sua própria mãe, a Ninfa dos Rios, esta quem segura o pano cor de creme. Neste momento eles lançam-se ao mar, triunfado depois de incialmente Polifermo ter matado seu amado, esmagando-o contra uma pedra.
Aqui ela já teria solucionado a tragédia e voltado ao mar, enquanto o ciclope tenta impedir, com todos os anjos dele, a tentar flertar o coração da ninfa para ser sua.
A direita superior vemos um anjo assegurando-se de que nenhuma flecha faltará. Ao lado da ninfa há centauros anunciando a vitória, cantando e tocando instrumentos. A concha significa virgindade.
Todos os elementos da obra sobre a parte inferior estão apoiados ao mar, não submersos.

A NINFA GALATÉIA é uma Obra Prima muito bem composta, rica em conteúdo, inspiradora, e verdadeira. Além de esteticamente bem composta, harmoniosa em suas formas e cores é a imagem dona de uma força Transcendental, Lírica e Erudita!

De Paula Borges de Morais

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

+ Francisco Goya


Muitos artistas plásticos da modernidade sonham com um sucesso autônomo, livre de capitalismo, dependência da alta sociedade. Um crescimento individual.
Particularmente também gostaria de transformar-me em grande artista sem antes ter de fazer arte ao conceito beleza a maior parte do mundo, ou seja, aos ricos que ditam o que é bonito ou feio a toda essa massa.
Aos pintores românticos nada foi diferente. Mesmo que em épocas distantes, Goya foi um gênio que nasceu em Fuendetodos, Zaragoza, na Espanha, em 1746. Começou a vida como artista fazendo pequenos desenhos a uma tapeçaria. A realização de seus sonhos fora realizada com ajuda de nobres nomes da Espanha.
Porém, o fato de envolver-se com artistas não lhe ofereceu os grandes méritos gratuitamente. Participou de concurso e muitas vezes perdeu. Mas a sabedoria e auto-controle de Francisco Goya superou. Ele acreditava em sua genialidade, independente se o resto do mundo não.

Atualmente no Brasil, muitos artistas da classe média/baixa permanecem no anonimato por preconceito da classe alta, a qual seria a única salvação para a divulgação de fato satisfatória das obras de um artista.

Goya foi o que parcialmente são os melhores desenhistas críticos na atualidade. Ele defendia a liberdade criativa dos pintores da academia de San Fernando, empregando imagens e sátiras a todos os acontecimentos que os rodeavam.
Gostaria eu de ter nascido na época de Francisco Goya. Pouco sabemos sobre sua personalidade os amores de Goya. É notável a amizade que Goya teve com a Duquesa de Alba. Tudo indica que algumas obras sejam ela, se não ela, o mesmo corpo com a feição diferente, feita pelo pintor, a fim de que não fosse tudo explícito. Duquesa era casada. Logo que ficou viúva, se mudou a uma casa de campo, a qual foi visitada pelo pintor durante alguns meses, e dali verteu grandiosas obras.
Como todos sabem, artistas amam diferente. Depois de alguns estudos superficiais, nada encontrei sobre Goya ter se casado, isso seria muito evidente em livros de sua biografia se caso tivesse acontecido. Goya apaixonou-se pela duquesa, mas nunca esteve junto a ela na sociedade. Limitou-se a gostar dela em silencio.
... e Continuava sua vida, sua genialidade permeava.
Em 1792, Goya adoece e fica surdo, começando assim uma fase introspectiva de sua vida. O corpo de suas obras toma diferentes tons e formas. A expressividade aumenta, juntamente com as formas agressivas, escuras, e de carregado conteúdo; um estilo alheio à época.
Do meu melhor ponto de vista, a surdez fez do artista o gênio espanhol, assim como Velázquez e Picasso. Não apenas para artistas, a capacidade de ouvir muitas vezes é manipulador e afoga nossa originalidade.

Goya foi um homem muito bonito, de pele clara, olhos expressivos e negros. Vejo tranqüilidade e profundidade no seu olhar, dono de um poder grandioso, porém vantajosamente vestido de humildade. Francisco Goya pintou até seu último suspiro. Morreu em Bordeaux, na França, em 1828. O maior acervo de suas obras primas estão no museu de Madri.

“Não encontro outro meio mais eficaz de progredir nas artes se não o de deixar em sua plena liberdade, correr a genialidade dos discípulos que queiram apreedê-las sem oprimi-los.”
Francisco Goya

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Saturno – Francisco de Goya

Aparentemente uma cena que rasga a paz e a ciência. Aos que tem estudo e sensibilidade, algo que trás a luz do discernimento.

Hoje meus estudos foram voltados a obra de Francisco de Goya(1746-1828), pintor espanhol conhecido como “gênio isolado”. Há algum tempo assisti “Sombras de Goya”, logo anexei mais conhecimento a mim lendo esta biografia do artista:

Coleção Folha de Grandes Mestres da Pintura (Folha de São Paulo N°5)



Goya é o meu grande, o favorito.

Talvez por não ter conhecimento de tantos outros e deixar passar despercebido... mas acredito que aqui não se passe conceito de quantidade; é questão de afeição.

A feição de Goya. O semblante em seu auto-retrato era calmo, de olhos que instigam o pensamento, a si mesmo a inspiração. Ainda jovem com alegria, logo mais tarde com certo rancor. A vida de Goya foi de grande sofrimento.

Talvez me identifique com Goya por que ele também mastigou e alimentou-se de sofrimento dia após dia, a partir disso criando sua identidade, essa que lembramos hoje. Também desenhista e inconformado com a revolução francesa, a partir de 1789, produziu grandes obras em distintos períodos de vida, sendo os últimos atingidos pela surdez. A partir de 1819, Goya desiste e isola-se do sistema, refugiando-se na “Quinta del Sordo”, periferia de Madrid. Inicia então as produções de suas Pinturas Negras.

Saturno faz parte deste conjunto.

Nas pinturas de Goya enquanto novo, noto a delicadeza das pinceladas, o cuidado com os tecidos como em “A condessa de Chinchón” ou o olhar da moça em “O guarda-sol”. A revolta com a revolução mudou quase que completamente o pintor, o instigando a entregar-se em ódio em suas telas e afrescos e produzindo algumas das obras mais assustadoras da história da arte.

Isso nos faz entender o que uma sensibilidade ferida faz com o estilo de um artista. Marca uma vida entre baixos e altos e os conduzem a serem lembrados pela eternidade.

Conheça SATURNO

(1820-1823) Óleo sobre muro passado á tela. Museu do Prado, Madrid.

Saturno, deus romano dos camponeses, foi advertido pelo oráculo de que um de seus filhos tomaria seu trono. Assim ele comia todos os filhos que viesse, exceto um, que conseguiu fugir. Júpiter.

Baseado na mitologia romana, Goya pintou Saturno em uma das paredes do térreo de Quinta del Sordo.

Esta pintura foi considerada uma das mais terríveis de toda a história, em conseqüência dos fantasmas que o assombravam; a surdez, doenças, transtornos da guerra, desilusão ao renascer do absolutismo e pelo fracasso do Iluminismo na Espanha.

A INTERPRETAÇÃO

Saturno, em versão romana, indica Cronos, o deus do tempo. O que significa que o tempo se ocupa em nos devorar, principalmente a consciência (cabeça).

Nisso, alguns acreditam. Outros vêem a versão erótica em “Saturno”, como se o Deus tivesse consumido de desejo pelo corpo que, ao se notar os quadris maiores, poderia ser de uma mulher.

Finalmente a interpretação política que diz ser Fernando VII devorando seu povo.

Para mim, é como se Saturno fosse um ser humano consumindo a si mesmo ao passar dos anos, como índica a primeira opção, “Cronos”.

A obra de arte não me causa dor ou sofrimento, e sim, torna a escuridão em plena Luz. Goya sabia o que é um ser humano exposto ao poder, ao capital.

Estaremos talvez, sim, devorando a nós mesmos acreditando sermos maiores quando temos mais poder. Devorando nosso próprio sangue (o filho de Saturno) a fim de que NUNCA SESSE O NOSSO PODER (trono)

Assista a “SOMBRAS DE GOYA” afim de que entenda um verdadeiro artista.

Méritos ao Grande Gênio Goya

domingo, 22 de novembro de 2009

As crianças da Chuva

Hoje até as duas horas da tarde fazia calor e nenhum sinal de chuva. Pelas primeiras horas do dia o sol havia aparecido. Agora são 14h51 e a chuva cai rancorosa, cheia de ódio e força.

Minha mãe e eu paramos na porta da sacada para observar a água lavando a avenida, a paisagem esbranquiçada, o vento forte desenhado nas gotas da chuva. Do outro lado da rua passavam quatro crianças, subindo a ladeira da avenida carregando suas bicicletas antigas. Crianças de tamanho variado, da cor negra. Observei e senti pena. Minha mãe viu alegria. Andavam todos pela beira da rua, onde uma água suja descia com força contra suas canelas. Logo, um deles deixou escapar do pé seu chinelo, e o menor deles correu rua abaixo atrás deste. Descia, sorrindo e rindo, mergulhando as mãos e os braços da água suja em busca do chinelo. Logo se jogou na correnteza da água com o par levantado nas mãos, e dava risada, chamando seus amigos, que levantavam a dianteira da bicicleta, empinando-as.

Trouxe de volta o chinelo e todos se abrigaram de baixo da marquise da loja de som automotivo. O vento forte continuava, e eles riam, e eles brincavam.

Crianças vêem na tempestade o espaço para suas brincadeiras. Vêem na chuva a possibilidade de lavarem suas almas. Por que elas não foram manipuladas pela consciência adulta de que tudo é motivo para seriedade, preocupação e tristeza. Crianças são puras e não têm medo de perder a seriedade diante de situações que deveriam trazer medo.

São elas, essas crianças pobres e negras da chuva, que deveriam conscientizar adultos burgueses que não se chora por ausência de dinheiro, e sim ausência de alegria de viver.


Que a chuva lave nossas almas da seriedade mórbida. Que sorrir não seja ausência de competência, e sim uma poderosa capacidade!

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

O Violeiro



Sacou seu violão enrustido, cor crua, madeira envernizada, de arabescos pretos lascados para alegrarem suas próximas notas. A ele sempre lembrou o velho oeste. Lembrou da melhor musica que sabia fazer surgir daquele instrumento. Olhou para seu colchão ao chão, coberto por três lençóis brancos, e lá se enrolava o corpo moreno da bela amada. Sussurrava baixinho o violão, dançando as cordas diante de seus dedos calmos, enquanto os olhos do violeiro se voltavam a sua silhueta. A janela tinha sido deixada aberta, e o vendo no final da tarde banhava o corpo daquela com o frescor da noite. De olhos fixos aos seus cabelos sendo espalhados pela cama, ele a via como sua deusa, sua inspiração. Lentamente a sereia se movia entre os mares brancos e brandos do seu leito. De pouco em pouco largava por três segundos as cordas do violão e flexionava as mãos sobre os olhos, para ter certeza que eles não estariam o enganando. Que engano seria, certo de que seria miragem. Os lençóis desciam pelas suas pernas, revelando sua pele ao sol baixinho e atrevido que a buscava através da janela.
O violeiro sentia ciúmes do sol, inveja de seu poder de aquecer mesmo de uma imensa distancia. E o violeiro, ali direto ao seu lado, a observava sem que a fizesse sentir protegida, afagada, confortável. A morena de olhos fechados parecia sentir beijos do violeiro através do vento.
Deitou então as costas ao encosto de sua cadeira. O quarto era pequeno, papel de parede alegravam o animo. Por que não conseguia o violeiro largar do tal olhar obsessivo pelo corpo da morena sereia?A noite caiu e a luz azul de uma lua entrou. O vento, o sol e a lua eram também obcecados pela sua seda. O branco dos lençóis com a luz da lua acinzentou-se, e a pele dela tomou-se daquele bronze de suas partes brilhantes cor de ouro. O violeiro entregava-lhe flores em forma de canções, e a pele morena lhe dava o espetáculo do brilho ao luar, ora o movimento, ora a ternura de uma intacta e imóvel imagem.
Cantou então para chegarem aos ouvidos daquela de beleza infinita. E a fez desenrolar o corpo dentre a brancura e revelar o dourado, o ouro de seu corpo nu.
Então, tornou-se em mais um louco no mundo, o Violeiro.
de Paula Morais

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Sinônimos da Vida

O sentido.

Para começar com sinceridade, não me importo se me encaixo em regras do bom e velho português. Quem inventou a regra dessa que tu chamas de gramática talvez tenha sido um cara que gostaria de esconder idéias vazias por detrás da chamada para a perfeição no cumprimento de regras. Regras? Estou da porta pra fora desse sistema.
É difícil dizer por quantos pensamentos estou passando, pela velha história de não estar conseguindo ter contato entre a lógica (razão) e o amor (sensibilidade). Algo que não tenho deixado de fazer é dizer as pessoas frases e pensamentos de dentro do meu mundo. Hoje as pessoas se assustam e riem menos, por que minha seriedade é maior. E também, por que pouco me importo e passo por cima de suas risadas que escondem a impotência ao pensamento.
Trabalhando um dia após o outro, tenho lidado com as pessoas e suas atitudes perante a algo novo diante a sua postura. Estou estudando reações imediatas, palavras, gestos, receios e medos. O ser humano é uma carência!
E porquê essa carência?
Você então, que grite bom dia a alguém longe de você, aquele que você nunca viu na sua vida tampouco conhece sua família ou quanto dinheiro possui. Elogiar camisa e cabelo até hoje só matou quem se vestiu de sarcasmo e cuspiu na cara do ditador.
Ainda que apenas reparando o fato de que as pessoas precisam ser lembradas e acariciadas, notei também o quanto a faze vegetativa contamina e prolonga-se.
Traduzido a língua menos bonita e mais convencional, hoje nenhuma pessoa normal quer falar sobre as cores das nuvens ou da saudade da infância. É cafona admitir seus pais como heróis; é cafona usar a roupa da moda 2008, ir na boate da classe pouco privilegiada, comer arroz/feijão. O bacana é bater racha, beber até vomitar e no outro dia bancar de gatão na frente do balcão comercial, pagando a conta com o dinheiro do papai.
Será? Lixo! Joga isso fora. Pra mim; não mais!

Ok. Mas isso apenas foi um momento que precisei passar. Um pouco de anarquia consciente, quieta, antes. Antes, para que consiga então voltar a ser ternura.

A gana de falar sempre mais indica minha estupidez.
Já havia um dia duvidado de que um blog seria uma grande idéia. Hoje, essa dúvida sentou-se aqui do meu lado. Essa conversa não está me convencendo. Seria ignorante ao manter algo pouco notado?
Mas, será necessário ser notada?
Conversando sobre a lei do comércio, caía na real que eu mesma fazia parte disso. Obviamente! Compramos tudo (carro, casa, roupa) para vendermos uma imagem. Compramos para nos vendermos! Agora parece um ultraje. Daqui uma semana, tudo é normal. Somos normais, os que acreditam na lua que são loucos.
Realmente é um disfarce essa vida que levamos, mas quem se importa? E, quantos daqueles que se importam mudam definitivamente de vida?

ILUSÃO!
ILUSAO!
ILUSAO!
Que seja! Oras, o que seria de mim sem ilusão?
É relativo. O objeto que uns chamam de ilusão, é o mesmo que outros chamam de sonho. É apenas algo dependente se acredita ou não. Se eu acredito em possibilidade, eu sonho. Se eu não tenho capacidade pra quer no que me parece impossível, julgo ILUSÃO.

Que sentido tem tudo isso? Por que é tão difícil em dois segundos ser feita uma pergunta do gênero na mente daqueles de mente aposentada ao mal nascer?
Estava eu entre algumas pessoas e senti uma vontade imensa por onde vagavam as almas daquelas pessoas. Observei seus rostos que tanto relutavam esconder o vazio com besteiras simultâneas exaladas pela boca.
- quantas cores vocês vêem nas nuvens?
Depois de aguardar o momento de riso passar, esperei que alguém me desse alguma resposta sensata. Que pergunta hilária, só poderia ter sido.
Cheguei a conclusão de que ninguém observa as nuvens como uma beleza. Apenas, como um objeto que traz a tristeza da chuva e alguns dias os agradam com a sombra.
Então me veio a gloria de saber o quanto aquelas pessoas andam por aí escondendo suas almas, aprisionando suas verdadeiras vontades. Vivendo, estou aprendendo que nenhum ser humano pode ser considerado um caso perdido. Alguém racional, extremista, talvez nunca sinta como um poeta apaixonado, mas ele pode sim sorrir com mais freqüência.
Um ser humano é mesmo um vaso de barro.

O que me faz pensar que nada na vida é em vão. Esforçar meu corpo e alma e dedicar-me a alguém aparentemente sem futuro é acreditar até em si mesmo. Acreditar que você pode salvar, e que ela pode mudar. A vida é assim. Hoje você é a resposta dela, amanhã ela será a sua.
Entretanto, o melhor de tudo é que NADA É FÁCIL.
Graças a um ser maior, o sofrimento se faz nessa existência terrena, graças que nossos cérebros ainda conseguem sentir dor. Ainda Sentem. Vá dizer então que seria melhor sem sofrimento. És um mentiroso! Pobre de espírito e inocente perante a sabedoria.

O cansaço físico comunica-se muitas vezes com o cansaço mental. Quando o físico não torna-se relacionado, ele é completamente ineficiente. Logo, se o cérebro é informado de lições corporais sobre sofrimento (trabalho ou treinos) é completamente produtivo.
Sem confusões, trago um exemplo do Taekwondo.
Existem várias lições de artes marciais por detrás do treino intensificado. Poucos mestres ensinam detalhes e fundamentos para tal, ainda que o corpo necessite de motivos para os quais trabalhar.
Participei por alguns meses de um tipo de arte marcial. Parei, obviamente, por ser uma criança e não ter tido a chance de saber por que andava me desgastando tanto. Os anos se passaram, e a vida me ensinou que necessito sofrer, MAS, apenas quando eu sei o que estou a aprender. Sofrer quando possuo um cérebro para compilar erros e analisar planos para acertos. Pra que sofrer se minha consciência está morta? É só meu corpo que se mutilará, e minha mente continuará em óbito.
Alma todos nós temos. Basta ativar. O botão que anda escondido.
A música me trás remédio para alma. Outros necessitam de pintura, escultura. Alguns necessitam de dinheiro, academia, carro e mulher para esconder que a alma não sabe onde procurar alimento.
Todos querem parecer preenchidos de luz. Todos querem ser heróis.
Qual seria o sentido?

O que são Sinônimos da vida!?
Estaria você sabendo qual dia é amanhã? Você acredita mesmo no amanhã?
O relógio ainda marca; um a menos, um a menos, um a menos...
Deixa, pendura-o na parece e só volta o teu olhar para o tal quando estiver com anseio, quando pensar que está atrasado para passar mais um dia vegetando na superfície ilusória. Isso sim é ilusão; correr atrás de algo que desaparecerá. Você padece e desaparece um dia. Papel de dinheiro, mais rápido ainda. Roupas, carros e casas um dia ficam velhas e cafonas.

E daí? O que sobra? O que deixa pro mundo?
Pra onde vai teu nome e tua alma?
Por onde anda tua alma? Por onde anda VOCÊ???
Somos todos apenas poeira ao vento. Os sinônimos da vida foram enterrados,
esquecidos. Porém, dessa terra que fora enterrado, vou fazer nascer dez vezes
mais sinônimos em cor de pêssego, verde e bordô. Nada de ilusão, tampouco sonho.
Isso eu chamo de Minha Realidade. Que assim seja.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

O tempo das Cantigas


Passando lentamente pelos pontos de memórias do passado, parei no sinaleiro e assim também meu mundo parou. Aqueles dias de infância então voltaram. A simpatia nos olhos, despreocupação com “os outros”. A via rápida às palavras, às atitudes, a ausência de pensamento cognitivo comandante. O arranhão que sangrou um pouco numa tarde de sábado naquele Ficcus, a árvore perto da varanda. E todo aquele desespero a pensar que o mundo acabaria.
A partir dos anos, vamos trocando nossos carros por mais velozes, menos coloridos e mais funcionais. Os que acreditamos nos levar mais longe. Olhando para os lados, as pessoas apressadas com seus carros pretos, ainda no fundo acredito que desejam ser felizes. A pressa senta no banco do passageiro. E pensar que começamos tudo na lenta motoquinha.
Aos poucos, trocamos nossos sorrisos e alegrias pela velocidade e preocupação única com o Destino, sem observar o itinerário.
As brincadeiras na rua, a vontade de estar andando em todos os matagais adentro. O café da vovó com ceroula virada e leite a vontade. Tempos onde as datas ainda eram importantes. Os aniversários eram como, faziam-me sentir como, se houvesse uma grande conquista. Os balões dos cantos da garagem, os enfeites pelas paredes. As pessoas iam chegando, e pela porta da frente oferecendo um grande sorriso no rosto e um pacote colorido entre os braços: “Cadê a Paulinha?”. Todos estavam cheios de vida, e fazer mais um ano antigamente era coisa de gente de sorte.
As paredes branquinhas de casa eram mais bonitas depois de um toque de canetinha preta, mesmo tendo que pagar um preço alto depois. As visitas iam chegando e dando risada. Minha mãe, de cabelos presos e mangas arregaçadas, ajuntava restos de balões estourados e cuidava dos docinhos, beijinhos e nunca se esquecendo daqueles cajuzinhos com açúcar. Recebia os convidados, que com os olhos já buscavam um lugarzinho pra sentar e esperar pelos parabéns. Ela não esqueceu de ligar para a Laurinha, a Fafá, Suzel.

15 anos depois, EU pergunto: “cadê a Paulinha?”.
Para qual lugar foi aquela menina que resumia sonhos em realidade sem responsabilidade? Nesse sinaleiro da vida, eu descobri que lá ela ficou, presa no ano de 1994.
O sinal abriu...

No momento do lançar de um verde, as buzinas arrebentaram para cima do meu carro, e diziam “Saia da frente, precisamos correr!”.
Na vida, o mundo de pessoas necessita correr.
Quantas pessoas atrás de mim se perguntam: “para onde foi a criança alegre e despreocupada em mim?”
Quase que não ouvindo as buzinas ao redor de mim, segui aquele mesmo trecho, mas, dessa vez, de vagar. Seremos hoje expostos as mesmas experiências, mas como adultos encaramos de forma diferente. Assim como resolvemos com mais destreza, menos nos importamos com o que isso nos traz afinal.
A árvore da esquina, aquela que dormia quando a gente passava a mão, não existe mais. O terreno de flores de beira de estrada onde passávamos momentos brincando depois da aula hoje é uma grande loja de peças de carro. Aquele cachorro que acompanhava a gente depois da aula, até em casa, ninguém mais teve notícias. A velha senhora que nos dava docinhos durante o recreio, foi levada pela sua hora. Qual foi o destino daquelas pessoas que, como eu, acreditavam que a infância seria para sempre? Para onde foi você, Ana Zulnara? Camila Anderle e Rodrigues? Onde foram esses que se transformaram em homens; o Pedrinho, o Mateus, Felipe Costa, Eduardo? Andariam vocês com tanta pressa que não poderiam parar num desses sinaleiros da vida e lembrar de tudo o que fomos?
O pátio do colégio Santa Maria já é coberto. Lembrei daquela época onde as crianças se sentiam orgulhosas ao se vestirem de caipiras e era uma honra ser escolhido para ser a noiva do casamento caipira. Peguei-me a imaginar se as crianças ainda não podem comprar quentão, e se hoje ainda se fazem as barracas dos recadinhos de amor. Se o pátio na frente da gruta eles ainda utilizam, e por quanto mais tempo eles vão manter essa celebração. O pequeno brotinho de arvore ali da frente hoje é uma árvore grande e vistosa, enquanto no momento que passo, dois serralheiros estão desenhando nela o seu fim, enquanto outro pendura a placa de “Em breve, Aqui...”.
A pracinha hoje tem chafariz e bambus desenhados pelas luzes verdes pela noite. Novas estátuas foram postas, e bandeiras indicando nosso patriotismo. Os bancos foram reformados e bem estruturados, projetados sobre as sombras das árvores. Mas, me pergunto por um segundo, para onde foram todas aquelas pessoas?
Para onde foram as pessoas tomando um chima às quatro da tarde, mesmo em banquinhos parcialmente quebrados? Para onde foram aquelas crianças penduradas nas balanças, aquele som agradável de risos e imagens de sorrisos pelo ar?
Não encontrei mais o senhor que nos vendia algodão doce, e já não vejo mais aquelas pequenas barraquinhas de duas rodas de cachorro quente com o toldo listrado de vermelho e branco. Hoje, elas são como traillers, cabendo 5 ou 6 homens dentro.
As cores dos prédios mudaram, e novos surgiram com um tamanho maior. As vezes o sol se põe antes, escondendo-se atrás de algum desses grandes construídos recentemente. A construção abandonada do shopping hoje é centro principal de comércio e encontro da cidade. Novos nomes pelas avenidas são vistos, e os antigos estão deixando o mercado. O brechó Vogui fechou suas portas. Mas, a sorveteria Neve ainda está lá, e hoje eu sei exatamente como chegar, quando que antigamente não sabia em qual lugar da cidade eu estava. Mas, o sorvete daquela época parecia mais gostoso. A família estava toda lá. Mesmo que a “Neve” esteja ainda lá, já não podemos ir todos juntos. E, As pessoas continuam a correr.
Por onde andam suas vidas, a que lugar foram presas e deixadas para trás enquanto assumindo algo de menor importância?
Sinto meus dedos enfraquecerem, e busquei um acostamento. Olhei em direção à rua, os carros desciam e subiam rapidamente das elevações da estrada. O plano de fundo parecia que resguardava até uma atmosfera diferente. E aquelas árvores a todos os dias observaram essas mudanças de perto... e eu, onde estive escondida todo esse tempo? Como não pude perceber que eu estava envelhecendo e tudo foi deixado para trás? Os seres humanos se prendem a essa linha do tempo e acreditam, certos de que estão cobertos de razão, que se vive uma faze de cada vez e, depois de vivida, é guardado em um arquivo para nunca mais ser resgatado. As pessoas têm medo de memórias de infância arquivadas em um lado sensível dentro de si, mas não tem medo de se jogar ao futuro sem olhar para trás.
Crianças não têm medo de amar, não tem medo de andar no muro e tem mais equilibro físico. Criança não tem vergonha de pedir, de abraçar e chorar.
...
A Infância
A infância dentro da gente é um eterno galpão colorido e enfeitado com balões e rendas, com carros antigos e conservados de cor azul claro ou amarelo. Galpão com rodas d’água, flores do campo e toca fitas. Um carrossel no canto direito, três motocas no canto esquerdo. Mesas de desenho, baixinhas, ao centro. Canetinhas e lápis de cor de cores inimagináveis, bonecas e carrinhos espalhadas pelo chão. Araras cheias de roupas de fantasias, narizes vermelhos de palhaço em uma caixa, junto de dentaduras falsas de vampiros. Cortinas vermelhas de veludo, tapetes imitando pele de urso. Máscaras coloridas, purpurina e cola colorida brilhante. Bolinhas de sabão espalhadas pelo ar, misturadas com aquelas risadas, aquela ausência da seriedade de um sério compromisso. O toque no pianinho, o arranhar de um violino, o riso em pedido de “desculpa, vou tentar fazer de novo!”. A boneca bárbie vestida de cinderela, o cavalinho de pau, na cor azul. O batom passado na roupa, a penteadeira com maquiagem falsa, pequenas meninas sentadas, assim ao olhar o dentinho novo ao nascer. A infância é um circo sem sentido denotativo. É alegria pintada pelo ar, cores enfeitando o lugar. A luz da lua é sorridente nos olhos de uma criança, e o sol é capaz de abraçar.

Faz parte de nós sermos pequenos um dia. É parte de nossa felicidade descobrir admiração pela nossa infância, e lembrar. Não ter medo de chorar ao lembrar de amigos e situações que passaram. Cuidados maiores dos nossos pais dirigidos a nós, cantigas de ninar de gente que se preocupa até mesmo com o nosso sono.

Mesmo que tenha que fechar meus olhos a imaginar, ainda quero acreditar em sonhos como fazia aquela criança. Quero lembrar dos dias que fui observada como pequena e fraca, e poder sem culpa almejar a liberdade para ser feliz enquanto viva eu estiver, enquanto eu viver o meu "para sempre".

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Lástimas em Clausura



Tenho me acostumado a estar sozinha em dias terríveis. De repente você se vê enclausurado de tal maneira que até mesmo suas maiores felicidades não te dão mais o presente da vontade de se compartilhar.
As vezes é mais fácil jogar a culpa na terceira pessoa, então digo vos claramente que estou contando um problema meu na ponta dos dedos de todos os seres humanos, como se fosse uma regra.
Talvez seja verdade... Eu mesma percebi não somente em meus defeitos tal diagnóstico, mas realmente um ser humano pode se sentir melhor brincando consigo mesmo, fazendo viagens, a vagar em próprios sentimentos mergulhando em pensamentos. A verdade é que quatro paredes podem segurar nosso corpo sem valor, mas jamais nossa mente. Essa nossa mente... Um balão de fogo que nunca se acaba.
Estive conversando com um amigo de Londres a respeito de Deus. Nada relacionado à Religião, visto que a mim nem assuntos de mesma mesa se resumem ser. O acordo foi que se mantermos uma meta a nossa vida, seja qual for, passamos menos tempo pensando que na verdade não somos nada, e que o mundo continuará a girar sem nossa presença. Logo, lendo um pouco de Sócrates, talvez a própria lembrança que as pessoas possam ter depois de nossa morte seja maior e mais significativa do que nossa própria existência material terrena.
Mesmo que você sinta raiva ou um sentimento conturbado sobre si mesmo perante ao Infinito, você acima disso têm o direito se fazer o seu máximo. Perguntei ao Neil quem era ele e por que precisava entender tudo e todos. Ele me disse “Quero ser o meu melhor”. No momento achei egoísmo consigo mesmo. Logo, continuei a admira-lo. Ele é um ser humano que sabe quão pequeno é mas não será por isso que desistirá.
Também alguém que vive em clausura não se sabe onde e esperando por não se sabe o quê. Alguém que vive num consentimento aparente, mas dentro de uma alma, um muito eclodindo em silencio.
Nós seres humanos, considerados diferentes (artistas plásticos, músicos, cineastas, atores, etc.) seremos para sempre o silencio do mundo, a parte do mundo intocada. Por mais que libertemo-nos destas quatro paredes, continuaremos em clausura com a nossa essência e nossa verdade.
Esta verdade que tanto é tentada transmitir através destas conturbadas palavras que tanto tremem de esperança.
Todas as minhas verdades são construídas na escuridão da solidão.
Há também o sentimento de culpa por muitas vezes não usar algo em minhas mãos para escrever parte de mim. Há o sentimento de total desesperança perante a esse mundo insensível. Seremos delicados e educados, mas, nós artistas, queremos na verdade é gritar e chacoalhar o mundo para que acorde de uma vez desse pesadelo da ignorância e sedentarismo mental. Essa parte da vida que é conformismo vivo e gritante, ao mesmo tempo agonizante por ser visto por surdos e ainda numa caixa de vidro com lacres sonoros. A felicidade também está trancada ali dentro. Seremos surdos amanhã, é. Infinito amanhã. A cura da surdez nem no amanhã estará. Fora dessas quatro paredes aqui dentro, encontraríamos? Não acredito, não consigo acreditar.E seja no que você acredita, que seja sem compromissos. Não cobre dinheiro pelo seu dom, por que é resumir-se a notas imundas de papel. Não cobre lixo pela grandeza dos teus pensamentos puros e tenros. Jogue pensamentos ao vento, mesmo que dentro de quatro paredes. Se teus pensamentos ultrapassarem, eles estourarão em meio a falta de oxigênio do mundo morto lá fora. Ninguém valoriza o que teu coração faz nascer. Não liberte sua essência, não se deixe padecer.
Então, a vida resume-se a um ser humano. Você tem tanto a estudar, mas quando olha para si, descobre que o mundo todo nasceu dali de dentro. O mundo que fora construído acima de uma natureza foi levantado movido as ambições e paixões de homens como nós, de matéria findável. Resume-te logo a descobrir o mundo dentro desse teu lugar, quieto, silencioso e simples. Armários necessitam de limpeza, memórias precisam de atenção. Memórias precisam ser lembradas para que possam te tornar em alguém Maior.


Serão lástimas, mas destas lástimas eu mesma vejo a Luz que trás sentido. A solidão torna-se constante quando você aprende a gostar de si mesmo a ponto de preferir amar-te a ti mesmo em silencio a que seguir lógicas desconhecidas.