sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Música Clássica, Poema e Arte

Galeria Municipal de Artes, Balneário Camboriú
Coquetel de abertura da Exposição "Alegria" da artista Clarissa de Khury e Lançamento do Livro "História da Bíblia", de Isaque de Borba e Mozailton Santos.

É difícil narrar o que hoje aconteceu. No momento em que cheguei, vi o presidente da Galeria, o comprimentei e assinei o livro de entrada. Haviam fotos de flores em suas cores magestosas que de alguma forma me tocavam... e depois, com o passar dos minutos dentro daquele ambiente inspirador, me tocariam ainda mais. As pessoas chegavam, e notavelmente estava a artista entre nós. Suas roupas, seu cabelo, seu andar, e seu jeito calmo a entregravam... era um dos pontos de inspiração da noite.
Logo, parei por um instante a observar a foto de um girassol na lateral da exposição e o fotógrafo Carlos Vieira a analizava também. Foi ali que conversamos pela primeira vez, e ele foi o meu guia da noite. Também foi pronto a me arrumar um papel e caneta para que fizesse minhas anotações entre nomes e frases, analogias inspiradas pelo momento. Conversamos sobre fotografia e arte e logo fui apresentada a Presidente da Academia de Letras de Balneário Camboriú, Sra. Mara de Souza. Muito simpática e humilde, me ofereceu a oportunidade de participar de eventos de abertura e palestras da Academia na região. Deixei com ela meu e-mail, conversamos um pouco até alguém a chamar.
Ficamos um tempo analizando as inspirações de Clarissa de Khury e sua razão por detrás das fotografias e pinturas a aquarela... Como dizia no seu texto, logo na entrada, dentro de um vidro na parede, a intenção era tocar as pessoas com as cores da natureza, devendo transformar o que nossos olhos tocam, em arte, em mensagem para a alma. Sentir e viver o que se vê. Logo a cerimônia de abertura se iniciou e apresentou a todos a artista, que por algum motivo ja sentira que era a mesma, e o autor do livro que estava em Lançamento.
Humildemente, Clarissa mostrou uma base forte e conhecimento sem a ganância do maior, sem exibicionismo. Traduziu as mensagens complexas de sua sabedoria a linguagem dos que pouco entendem, talvez, o mundo sensível da natureza, para que ficasse claro a todos que o que a moveu foi o que todos vêem mas não valorizam tal qual.
Logo depois de seu agradecimento e as palmas, o autor do Livro é apresentado e toma a palavra. Fiquei imaginando... por que artistas têm a aparencia do típido Europeu? Talvez a imagem do brasileiro típico só se encaixe bem a Jogador de Futebol e dançarina de Funk... como mais tarde alguém na exposição me falaria: "o brasileiro não tem o costume da Leitura."
Ele fez um pequeno discurso que me tomou a atenção. De um jeito racional e sábio, definiu seu livro como "Nada Teológico" e explicou parâmetros a serem avaliados em sua obra. Muito sensato, entregou a palavra a mestre da cerimonia novamente. Gostei dele, enquanto duas mulheres ficavam falando atrás de mim:"que gracinha! que gracinha"! Sorri, e concordei.
Por último, uma senhora conhecida por "Tia Maria", vivida e engraçada, sentada atrás de uma mesa que tinha livros distribuidos em cima, sacou sua bengala e, sorrindo, caminhou até o microfone. Fez alguns comentários, e preparou as pessoas gentilmente para que escutassem-na, fazendo-as rir. Agradeceu, sorriu, riu, elogiou, e ao final na fala, Presenteou.
Bem maquiada, eu não queria que acontecesse o pior a mim, mas por apenas não querer não adiantou. Estando num lugar iluminado como uma Galeria de Artes, seria impossível não ser eu mesma, por isso, sendo eu, ao escutá-la recitando um poema, chorei. Chorei por que ela disses sobre o "Músico, Artista e Poeta". Chorei por que finalmente eu estou na Balneário Camboriú que a um mês atrás sonhei.
A emoção e o sorriso, somada de palmas e alegria, finalizaram a recitação; todos estavam alegres. Então, fomos convidados para ir a área da piscina, no coquetel. Enquanto as pessoas se dirigiam aos fundos da galeria, conversando com o fotógrafo Carlos, uma senhora parou bem a minha frente, da mesma altura que eu, e ficou a escutar nossa conversa. Concordava com ele, enquando fazia comentários, e o ajudava a apresentar de longe os nomes que estavam ali presentes. Curiosa, perguntei o nome dela. Ali conheci a escritora Russa, a tão sábia Tamara Kaufmann.
Tamara é uma simpática "Você" (não a chame de senhora) que me encantou com sua história de vida e sabedoria. Em poucos minutos, conseguiu me surpreender com sua bagagem espiritual e discernimento. Poeta e Escritora, que dentre seus livros também escreve colunas para a revista Bem Viver. Junto de um historiador, paramos próximos a piscina para uma taça de vinho. Conversamos como se não houvesse o "Tempo".
Tamara Kaufmann nasceu na Rússia, e viveu a pior época da Alemanha quando, com 7 anos, mudou-se para lá. Além de tanto sofrimento, até o pão, a farinha, era racionalizado no país, sem contar as tantas noites aterrorizantes pelos bombardeios rivais. Com 12 anos, Tamara veio ao Brasil, com esperanças. Sua mãe, viúva, casou-se três vezes. No Brasil, mesmo que num país livre, continuou a sofrer. Morava longe de tudo e tinha que trabalhar em qualquer lugar que a aceitasse, e serviço braçal, pois Tamara não falava o português, e o brasileiro não falava Russo nem Alemão. Quando adolescente, mesmo já neste país, ainda sentia calafrios ao escutar trovoadas; lembranças de uma prisão ao ar livre de países soterrados de ignorancia humana e prepotência, onde seres humanos de ambício e ganância não sentem piedade ao plantam em todos experiências traumáticas.
O resto da noite conversei com Tamara e descobri também alegrias em sua vida. A todo o começo necessidades vividas são dolorosas, mas a recompensa vem mais tarde, também em simples forma de dias de paz. A escritora e poeta casou-se muito bem. Mesmo com o fato de que não pudera ter filhos, Tamara viu em seu marido o preenchimento necessário e, ao meu perceber, o casamento fora de grandiosa cumplicidade. "Ele combinava comigo em tudo! Gostava das mesmas cores, mesmas músicas, cinema, teatro." dizia ela. Ela mereceu!
Tamara hoje é viúva e aposentada. Escreve poemas, livros e podemos esperar em breve o lançamento de sua auto-biografia. Além de tudo, ela borda, faz bijus, bolos e tortas, pinta quadros... como eu mesma disse a ela: "é mais fácil dizer o que você não sabe fazer!".
Como todo poeta e artista, ela é apaixonada por música classica e uma fã de Bethoven declarada. No momento em que me revelou este detalhe, pensei nas músicas de Yann Tiersen, o pianista da Amélie Poulain, e, como fui convidada a visitar sua casa para um café, prometi a ela levar de presente um cd com as melhores músicas dele. Ela me prometeu um livro dela também, e assim fomos nos tornando amigas... E rimos juntas várias vezes, que amor de pessoa!
Enquando conversava com Tamara, as pessoas vinham a mim e falavam alguma qualidade dela, para que eu soubesse com quem estava falando. A cada um que vinha, eu me sentia mais honrada; até dos seus doces e salgados as pessoas vinham se gabar. Realmente, foi uma delícia conversar com ela.
Foi ficando tarde como em todas as outras vezes que sou eu mesma fica. Me despedi das pessoas que conversei, dos quadros, do presidente da galeria. Ao sair pra rua, peguei meu celular e liguei pra minha mãe. Desejei durante toda a noite que ela estivesse ali. As pessoas dali se encantaram quando disse que sou filha de artista, e desenho como minha mãe pinta.


Se eu pudesse definir em poucas palavras o que foi o dia de hoje, diria: Uma vida em Duas Horas. Além de conhecer outras realidades, desta vez parecidíssimas com a minha, conheci mais a mim, como em todas as vezes que conheço, mas sozinha.
Hoje, junto daquelas pessoas, me senti conectada aos seus mundos e admirei-as, me sentindo estranha por a tempos não ter uma visão semelhante ao ser humano.
Artistas, Poetas, Escritores... toda a magia, o encanto, o sentimento aflorado preso às paredes em fotografias coloridas, foi ver uma porta se abrindo a mim enquanto um milhão delas estiveram se fechando.
Recebi um conselho da artista Clarissa de Khury que me deixou perplexa...
Perplexa por que imaginei desde o começo o que ela acabou me confirmando.
Que o destino as vezes seja Mestre, e tire os pincéis da minha mão por um segundo para que mostre como se faz... e talvez faça um pouco por mim.
Às vezes, até o artista se sente confuso...

De uma pessoa diferente de ontem.