quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Cérebro

Às vezes acredito que ter criado um blog para anexar meus textos não fora boa idéia. Fico entusiasmada para estar sempre postando mais, muitas vezes me forçando a produzir um bom conteúdo. Mas, o bom pensamento é aquele que nasce inesperadamente, que brilha e trilha seu próprio caminho na mente, como o amor, “no peito”.
(o que não faz muito sentido, por que o Amor deve prover de um conjunto de ligações nervosas que ativam uma pequena parcela da massa cefálica. O que indica que quem ama sabe usar a cabeça, ou tem capacidade de ativar tal espaço cerebral).
O fato é que tudo está ligado ao nosso cérebro, e tudo começa ali. É bizarro viver uma aula de anatomia e conhecer um cérebro de verdade. É quase que assustador você se ver tentando engolir como aquilo tem toda a capacidade que tem. Aquilo ali faz da bondade da Madre Tereza de Calcutá e Dalai Lama, até o ódio possessivo e maquiavélico de Hitler ou o serial killer Herb Baumeister. Aquilo ali organiza e comanda você, sua vida, seu destino... Seu fim.




Eventualmente, me preocupo ou apenas tenho imaginar o que as pessoas pensam de mim. O que tenho certeza é que as que não me conhecem pensam algo profundamente diferente do que as que me conhecem. Da mesma forma que as que muito me conhecem, não são necessariamente amigos. Por que amizade é semelhante ao acordo, e se duas pessoas não concordam com a mentalidade do outro, jamais haverá qualquer tipo de negociação.
Todo julgamento nascido antes da Análise, é o chamado preconceito, o que não indica apenas as diferenciadas raças, e sim, também às diferentes formas de se Raciocinar.
A pessoa que costuma me ver na rua pensa o oposto daquele que não me vê, só me lê. Quem me vê, acha que não sei pensar. Quem me lê, acha que não sei ser mulher. Então, nesses anos eu venho tentando casar bons cuidados com meu corpo e alimento a minha mente. Preocupação com quem só tem capacidade de leitura nos olhos? Talvez. Mas ter olhos não significa ter raciocínio pra ler a foto através deles, por que em muitas pessoas isso parece não ter ligação direta.
Importante é jamais dizer o que se é, ditar seu estado, gritar sua nomenclatura. Independente do tempo, quem você é verdadeiramente, será visível por muitos. Mas É visível a poucos. Contente-se.
Contente-se com sua vida, sua escolhas. Sua atuação, como em um teatro...
Lembro-me de um professor de artes cênicas da escola, que vivia dizendo aos alunos: “Nunca te preocupa com o que eles pensam... a vida acontece do tablado pra cá. Não há ninguém lá, eles são só sombras, e te criticarão se você lhes der lado e chance para tal.”
Eu imaginava todo aquele veludo vermelho, os camarotes de estilo francês, em andares nas paredes do teto alto do teatro rodeados de ferro banhado a ouro em arabescos, as cortinas longas, as poltronas em fileiras rodeando o palco...
No dia da apresentação, imaginei o teatro francês vazio, enquanto havia umas 300 pessoas assistindo a peça. Tinha dificuldade de encarar o público por que, se os olhasse nos olhos involuntariamente começaria a imaginar o que eles estavam achando da minha atuação. Preferia sempre viver o que era para ser vivido, dentro daqueles metros, um mundo, em uma peça.
Fui a Fada, outra vez, a Gralha Azul, a Vitória Régia, até a Noiva do Casamento da festa Junina. Talvez tenha dado certo no colégio ignorar o preconceito dos outros; e por que não daria como adulta?
Os tempos de ser fada já passaram, e nunca mais vou ser criança para fazer algo diferente. O que fiz está escrito. Mas tenho ainda a caneta em minhas mãos, muitas folhas em branco (com sorte) e tenho a chance de continuar escrevendo o que eu quiser, até que meu corpo adoeça e ela escorregue entre meus dedos, sem tinta.
Às vezes, sozinha pego o livro da minha vida no colo e volto várias páginas, estudo quem fui, e chego a conclusão de que somos uma pessoa diferente a cada dia. Em datas marcadas, no dia 11 de janeiro de 1995 eu fui uma criança inocente. E no dia 11 de janeiro de 2009, tornei-me mulher.
Ontem mesmo eu acreditei menos em mim do que acredito hoje, isso me faz ser alguém diferente. Por isso, lembro-me diariamente que amar alguém é ter o compromisso de se apaixonar todos os dias por uma nova pessoa dentro da mesma.
Não me preocupo mais se o atendente da farmácia da esquina gostou de mim ou se no salão de beleza eles gostaram da minha sobrancelha, por que amanha ela vai estar diferente, e posso engordar, emagrecer, assistir nascer uma ruga.
Então hoje comecei a me dar a chance de ser reconhecida pelo que sei fazer, sem gritar. No silencio, eu mantenho o meu blog.


“Se tiver que lembrar as pessoas que você é, você não é.”